terça-feira, 10 de junho de 2008

Edigar Mão Branca - Programa Som Brasil


Edigar Mão Branca é um legítimo representante da cultura sertaneja

Cartola: o mundo é um moinho

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Nina Simone: música e política


A tendência natural do homem de classificar seres e coisas sempre existiu. É bem mais simples lidar com a idéia de agrupamento, quando os rótulos determinam perfis e condutas. O problema é quando algo foge do previsto. Ou quando é múltiplo, ou seja, inclassificável. Assim é Nina Simone, no mínimo difícil de se definir. Você deve ter ouvido dizer que seu estilo é jazz. Sim, mas também é soul, blues, gospel, folk, pop e tantas outras variações que só mesmo uma artista como ela poderia desenvolver. Não se trata apenas de mais uma bela voz – belíssima, por sinal. É toda uma conduta e um posicionamento diante da vida que a tornam uma mulher tão especial.

Se hoje a situação para a comunidade negra norte-americana não é das mais fáceis, imagine no início do século vinte. Nina Simone, que veio ao mundo como Eunice Kathleen Waymon, nasceu em 1933, período em que a questão racial ainda não era discutida abertamente, só sentida. Portanto, a segregação era ostensiva e os negros não possuíam voz ativa, apenas sentiam o peso da opressão. Imagine o impacto causado por uma garota negra e pobre fazendo parte da conceituada e conservadora Juilliard School of Music, de Nova York. Em plenos anos 50 Nina tornou-se uma das primeiras mulheres negras a estudar piano na instituição. Foi apenas uma das barreira a serem vencidas.

A carreira da musicista estaria praticamente definida, com o talento nato e um início promissor. Eu disse estaria, porque o destino de Nina previa outros caminhos. Além de trabalhar como acompanhante, conseguiu outro emprego como cantora num bar em Atlantic City. Era o momento de Eunice Waymon dar lugar a Nina Simone, em homenagem a atriz francesa Simone Signoret. Ela nem imaginava o que estava por vir.

O sucesso na noite rendeu a gravação de um álbum no final dos anos 50. Uma canção em especial tornou-se hit, “I Loves You, Porgy”, da ópera "Porgy and Bess", de George Gershwin. Ficou de cara no vigésimo lugar das paradas, um dos poucos da sua carreira. Os anos 60 foram tempos férteis para o nosso alvo. Contratada pela gravadora Phillips, gravou de tudo um pouco, de canções francesas a israelenses, ao jazz de Duke Ellington. Deu seu toque em hits como "Don't Let Me Be Misunderstood” e "I Put a Spell on You", que por sinal, influenciou os Beatles no vocal de Michelle. Após algumas mudanças de gravadora, já na década de 70, Nina se separa do seu marido e empresário e resolve dar uma guinada geral.

Cansada da peleja do preconceito racial e com o show business, começa uma vida meio cigana. Mesmo com problemas financeiros, mudou-se para Barbados e depois para Libéria, na África, Suíça, França e Inglaterra. Continuou produzindo e compondo, porém sem que os holofotes a alcançassem. Graças a um comercial de perfume Channel, na década de 80, Nina praticamente ressurge, com a canção "My Baby Just Cares for Me", hit instantâneo. Daí em diante, seu talento voltou a ser reconhecido e gravou com Deus e todo mundo. Dividiu palcos e estúdios como Pete Townsend, ex- The Who, Miriam Makeba, Maria Bethânia, veio 6 vezes ao Brasil, fez trilha para cinema e muito mais. Virou estrela em 2003 aos 70 anos de idade, de causas naturais, em sua casa no sul da França.

O ativismo político esteve presente em todos os trabalhos de Nina Simone. Sua luta pelos direitos civis dos negros foi intensa a ponto de faze-la deixar a terra natal, os Estados Unidos, por discordar da situação. Uma das canções mais marcantes nesse sentido foi Mississippi Goddam. A letra dura fala do não menos leve episódio do atentado à bomba em uma igreja batista no Alabama, causando a morte de 4 meninas negras. Era época do terror da Ku Klux Klan. Sobre a morte do líder Martin Luther King, escreveu “Why? The King of Love is Dead” ou “Por que o rei do amor está morto” e vários outros temas. Sua vida foi retratada na biografia I Put A Spell On You e em breve ganhará as telas de cinema. A escolha da atriz principal parece ter sido acertada, com cantora Mary J. Blige. Além de ser uma artista acima de qualquer suspeita, tem outras semelhanças com Nina Simone, como fato de ser também empresariada pelo marido e de defender os direitos civis.

*DOSSIÊ NINA SIMONE
Produção: Cássia Magalhães
Apresentação: Michelle Bruck

'I Put A Spell On You'. Nina Simone (1968)

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Mart'nália: swingue do samba


É preciso mais que talento para, em alguns anos de carreira, reunir sobre si o respeito e o entusiasmo de nomes como Martinho da Vila, Caetano Veloso e Maria Bethânia. É preciso mais que nome para, a cada trabalho, fazer surgir como clássicos novas canções e compositores, e ao mesmo tempo prestar reverência originalíssima aos mestres do samba e afins, dentro da generosa árvore genealógica musical brasileira.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Tracy Chapman - "fest car"


Tracy Chapman (Cleveland, Ohio, 30 de março de 1964) é uma cantora uranista de música pop, rhythm-and-blues jazz soul norte-americana, vencedora por diversas vezes do Grammy, tornada mundialmente famosa por suas canções "Baby Can I Hold You", "Fast car" e "Bang bang bang"

Guitarrista e compositora desde criança, ingressou no programa "A Better Chance", voltado a identificar nacionalmente crianças negras talentosas para o desenvolvimento acadêmico, o que lhe permitiu freqüentar a Wooster School, em Connecticut e posteriormente a Tufts University, em Medford (Massachussets).

Em maio de 2004, a Tufts University concedeu-lhe o título de doutora honoris causa em Belas-artes, por sua contribuição como uma artista socialmente engajada e por suas realizações artísticas.

Ainda durante a faculdade, Chapman começou a apresentar-se nas ruas, tocando seu violão em cafés de Cambridge, Massachussets. Enquanto esperava sua graduação acadêmica, assinou contrato com a SBK Records, em 1988, lançando seu primeiro álbum, intitulado "Tracy Chapman" - que foi logo aclamado pela crítica, e ela passou a realizar tournês e conquistar o público. Após sua aparição num programa de TV, em homenagem aos setenta anos de Nelson Mandela, em junho, sua música "Fast Car" alcançou o topo das paradas nos Estados Unidos, ficando entre as 10 mais executadas da lista da Billboard Hot 100, enquanto outras faixas também ficavam entre as mais ouvidas, "Baby Can I Hold You" entre estas.

O disco vendeu bem, alcançando vários certificados de vendagem da RIAA (discos de platina), e fazendo-a vencer no ano seguinte (1989) quatro Grammy Awards, inclusive a de melhor artista revelação.

Chapman tornou-se, depois disto, uma artista ligada à Anistia Internacional, participando da tour "Human Rights Now!". Segundo algumas fontes, Chapman tornou-se uma das mais influentes artistas no meio universitário norte-americano, nos anos 80.

Seu álbum seguinte, Crossroads (1989), não teve o mesmo sucesso comercial. Em 1992, quando lançou seu trabalho seguinte - Matters of the Heart - seu público era restrito a fãs dedicados. Apesar de todos acreditarem ter encerrado sua carreira, surpreendeu os analistas em 1995, com New Beginning, que vendeu mais de 3 milhões de cópias apenas nos EUA, e rendeu-lhe um Grammy, em 1997, de melhor canção de rock.

Em 2000 Telling Stories foi um álbum com músicas mais voltadas para o rock que para o estilo pop, que até ali seguia. A música-título do disco foi bastante executada nas rádios européias, e em alguns segmentos norte-americanos. O sexto álbum foi Let It Rain, de 2002, que Chapman divulgou em tournê pela Europa e EUA em 2003.

Where You Live, sétimo álbum da cantora, foi lançado em setembro de 2005. Com este trabalho realiza excursões pelos EUA e Europa.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

120 anos de abolição: o que se passou?

O que passou? Apenas o tempo, mas as condições de vida para a etnia negra e afrodescendente pouco ou quase nada mudaram na vida da maioria desta população!

O que ficou? Uma grande repetição exploradora e muitas lições a serem aprendidas por toda a nação!

O que se realizou? Nem todos os sonhos desejados se realizaram, contudo a esperança e a bravura nunca perderam o seu espaço na luta intensa dos anônimos/as da população negra desta terra!

O que se aprendeu? Nunca houve qualquer concessão, só após as lutas houve conquistas e que na comunidade não se perde a identidade!

O que este povo nunca esqueceu? O valor da experiência coletiva e comunitária, pois sempre que se individualizou sofreu o mau agouro da solidão e da exploração e que a consciência não é mágica, mas que deve ser ensinada e aprendida a cada dia do nascer ao por do sol!

O que se viu? Tristes histórias que se sucedeu em diferentes lugares do país, mas também o heroísmo anônimo que quebraram correntes e prisões incomensuráveis!

Quem ficou? Heróis pouco conhecidos, mas com a bravura de serem tão importantes que nem o silêncio, nem a omissão arquitetada durante séculos conseguiram extingui-los! Valeu Zumbi!

Onde ficou? Nas ruas calçadas das cidades coloniais, nas construções de paredes largas de dezenas de cidades históricas em todo este país, na força do trabalho negado, na riqueza que foi apropriada nas mãos da elite, na ausência política, sócio-econômica e educacional que hoje clama por justiça e dignidade!

Qual ritmo dançou? Dançou a musicalidade de todos os sons, pois a arte do movimento, da ginga, do passo e do compasso, da harmonia sempre foi ouvida com sensibilidade desde a época dos primeiros e mais sábios ancestrais da África e o contato com a madeira, com o couro, com os metais é musical!

Que alimentos comeu? Não só comeu, como também ensinou a comer a força das plantas, das raízes, das folhas, das carnes, dos cozidos e assados que a natureza graciosamente oferece!

Que fé cultuou? A força do AXÉ! Que conta a história sensível e profunda de como que a espiritualidade perpassa a todas as coisas das mais simples às mais complexas e que a relação entre cada ser vivo e o coletivo é belo e precisa ser respeitada, nos seus ciclos e manifestações!

Por que 120 anos em doze perguntas? Porque a matemática é simples, precisa e pode ser sempre multiplicada por 10 (dez), representando assim cada questão a proporção de uma década, mas que inspira o desejo de um novo movimento onde não se necessite esperar outros 120 anos para que tenhamos mais vida, mais igualdade sócio-econômica, mais respeito, mais escolaridade, mais cidadania. Queremos um tempo breve para que todos vivam como gente!

Professor Uene José Gomes- CEAB/UCG

O arquiteto de pesadelos

Há quinze dias. Quinze. Religiosamente, sucessivamente, dolorosamente, sonho com a morte. Não com a morte exatamente, a velha com a foice e enxada; mas com o espírito da morte, ou tudo aquilo que compõe o cenário da morte. Rigorosamente. Quinze dias, sem falha de um sequer. Quinze: cemitérios, cortejos fúnebres, covas, catacumbas, defuntos, procissões, enterros, lamentos, choros, carpideiras, cemitérios, defuntos, cortejos, catacumbas... Quinze dias de sonhos.

Eles vêm em capítulos, mas a fotografia é a mesma; é o mesmo diretor, o mesmo fundo musical: um silêncio a la Peter Gast; é sempre o mesmo roteiro inacabado. No último episódio, uma amiga me conduzia numa bicicleta cargueira pelas ruas de uma cidade estranha cujo colorido transitava entre a “Lista de Schindler” e “A Vida é Bela”; imensos portões de ferros abrigam estátuas antigas, de olhares vagos e semblantes monótonos. Um cortejo fúnebre invade a rua de asfalto úmido e vozes vestidas de branco entoam um cântico de lamento profundo: e um solitário camelo o esquife conduz. A morte parece-me, neste sonho em particular, muito mais trágica que nos episódios anteriores, pois que os que conduzem o morto são também almas depenadas, mas vivas; são espelhos de gente, tatuagens de vida; os lamentos são mais uma auto-piedade que saudade do morto verdadeiro; inadvertidamente, a cargueira avança sobre a procissão das almas e nós – em cujos semblantes pairam ares de zombaria e desprezo – estamos cara a cara com o defunto. Eu e a amiga Cláudia estamos despertos daquela dor, mas o ambiente é de uma atmosfera pesada e nossos corpos parecem ser impelidos a abandonar o local, que não nos pertence.

Em outro episódio, estou acompanhado de duas pessoas que me guiam ao cemitério localizado na praça Tancredo Neves, onde as cruzes são pequenas e as covas, devidamente cobertas pela vegetação, sem ondulações no terreno, sem sinais. Indago ao cicerone por que três nomes na mesma cova e o sujeito-obscuro esclarece que os dois primeiros foram retirados para dar lugar ao meu pai. Não me estranha o fato. Vislumbro sem qualquer sentimento as demais covas, que adivinho existirem, pois que não visíveis, e saio andando pelas avenidas da cidade. Não há fundo musical, nem sentimento de dor, nem riscos. Apenas a informação. Sei que ali, na praça Tancredo Neves, há mortos de todas as origens que se sucedem no terreno, abrigando-se nos abrigos uns dos outros, uma irmandade de mortos saudáveis.

Em certo sonho – confesso – doeu-me não encontrar o caminho da cidade. O sentimento de aventura deu lugar ao desespero. Amigos-obscuros, mas amigos, seguiam-se numa jornada composta de risos histéricos, típicos de dores inconfessáveis. A mim não me restava dúvidas quanto ao rumo da cidade, mas por sobre as catacumbas de um cemitério imenso o céu parecia maior; eram tumbas imensas, cimentadas de cima a baixo, sem quaisquer inscrições de nomes ou datas; cada uma parecia comportar famílias inteiras, de épocas distantíssimas, muito distantes; foi neste capítulo que achei a saída: Vitória da Conquista era vislumbrada numa distância magnífica, mas o fato de poder vê-la dera-me alento inédito e Drummond erguia das trevas seu canto doido, “não cantes a tua cidade”; senti-me encorajado a permanecer com os obscuros nos jardins dos mortos, podendo enxergar a cidade na distância descomunal, mas tão próxima e tão quente, e tão pálida, e tão fria...

O xadrez fez-me companhia neste que foi o episódio mais hilário e amedrontador, pois que o defunto, esquartejado, tinha os grandes olhos abertos sobre mim e esboçava uma verdade que teimava em não abandonar seus lábios roxos. O Cemitério da Saudade e sua capela estavam vazios quando entrei; um minuto depois estavam agrupadas inúmeras pessoas que choravam e riam enquanto lembravam as aventuras de um morto que não pude ver. À medida que eu tentava escapar da bestialidade, o ambiente se tornava ainda mais insuportável, uma zombaria irritante; doía-me principalmente a impotência de meu corpo e a indiferença dos demais. Uma indiferença cínica, uma indiferença mal-intencionada, que parecia querer dizer algo sobre mim; o som dos risos impregnaram as paredes cinzas e as vozes e os choros emanavam das paredes e dos tetos; tudo ali era desespero e riso e um morto que não tinha corpo, que não existia, num ritual macabro de histeria coletiva.

Ontem, ao dormir, fiz questão de projetar as imagens que queria ver nos sonhos; arquitetei meu pesadelo. Mas acordei suando frio. Fui ao banheiro lavar o rosto numa água gélida e, aos poucos, vieram-me à mente as imagens do sonho: eram cemitérios de andares, prédios que abrigavam mortos que falavam entre si numa linguagem inatingível. Aos poucos, a mente abria janelas e os sonhos iam clarificando o juízo. Eram quatro e quarenta da manhã; olhei pela janela da rua e uma densa neblina cobria a serra do periperi; no meu bicama, sentado, ouvi uma meia hora de Mozart e voltei à cama. Adormeço e retomo o mesmo sonho na mesma cena onde havia acordado; um sentimento de vazio pleno abocanhou-me: as vozes sumiram e o cinza-morto das paredes era amedrontador. Cemitérios gigantescos de andares, ruas desertas e um desejo de ser éter. Luzes mortas, céu escuro – embora dia – e ausência completa de vida humana.

CRÔNICA: “Vou morrer”

Por Luiz Cláudio Sena (foto)
Vou morrer. Aos poucos, a idéia da morte vai se acomodando. Aos poucos, saber-me efêmero vai se transformando numa constatação indolor. Aos poucos, por uma certa aproximação – cumplicidade ou co-gestão – com o processo criativo universal (ok, chamai-o de Deus), meio que vou me convencendo de que também eu estou submetido à grande regra: fenecer.

Vou morrer. Olho para trás e vejo que as múltiplas, diversas e complexas perguntas feitas a mim mesmo e ao mundo ao meu redor começam a ser respondidas, não pela leitura dos filósofos, não pelo estudo da cultura oriental e de sua religião, não pela meditação, mas por mim mesmo, inconscientemente. Aos poucos, ao invés de obter respostas, subtraio perguntas. Aos poucos, toda a inquietação se transforma numa confluência, coesão com o todo. Aos poucos, a Verdade, que busquei, me busca.

Aos poucos, a resposta, tantas vezes escorregadia, enrosca-se em meu pescoço, cachecol em linha de tricô.

Vou morrer. E me irmano com meus ídolos. Dentro em breve – para a história, o que são 100 anos? – dentro em breve estarei com Ele. Mas Ele já está comigo. Dentro em breve, deixo de ser protagonista, exclusivista, egoísta, narcisista, para ser tudo, todos, total. Dentro em breve, esta sensação de agora – nirvana é a sensação – vai consumir-me todo, vai envolver-me todo, e todo me fará viver.
Vou morrer. E só agora, quando deixo de lado toda a seriedade, é que vejo o quanto essa brincadeira é séria. Só agora, pleno, posso revoltar-me, encolerizar-me, reivindicar, gritar, humanizando-me, emocionando-me, permitindo-me, ignorando-me. Só agora, “onde vês eu não vislumbro razão”.

Vou morrer. E já formulo – data vênia, Senhor Deus – uma revisão no modelo operacional em uso no universo. Algumas leis universais merecem ajustes, adendos, emendas. Talvez burocratize um pouco, mas alguns ritos podem ser sistematizados, sem prejuízo algum à idéia central da Criação.

Vou morrer. E só agora, quando completo 32 anos, vejo que faço 31. Em janeiro de 2008, hei de completar 30. Nesse ritmo, em 2045 volto a sonhar.

Vou morrer. Vou me deitar no colchão macio da Verdade e dormir profundamente. E vou sonhar com a nova Vida que me espera, e me preparar para minha segunda morte, para acordar para uma nova vida, e me preparar para minha terceira morte, para acordar para uma nova vida, e me preparar para minha quarta morte, para acordar para uma nova vida, e me preparar para...

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Bob Marley - Is this love


Seu verdadeiro nome era Robert Nesta Marley. Divulgou o reggae jamaicano no Ocidente sem fazer concessões à música comercial. Suas gravações, iniciadas em 1961, caracterizavam-se pelo ritmo da música e pela crítica social, que falava da repressão aos negros, sobretudo na Jamaica. Seu primeiro sucesso internacional, com a banda The Wailers, em 1975, foi No, Woman no Cry. Seguiram-se outros como I Shot the Sheriff, famosa pela interpretação de Eric Clapton, e o combativo Get up, Stand up. Músico carismático e praticante do culto rastafári, foi aclamado em seus concertos na "Babilônia", apelido dado à Europa e aos Estados Unidos, civilizações cujo destino, segundo ele, seria um ocaso definitivo. As gravações desses concertos estão no álbum Babylon by the Bus (1978).

Don't Worry, Be Happy (Bob Mcferrin)

Nelson Cavaquinho - "vou partir"



Vou Partir (cifra para violão)
Tom: F

F Abº Gm7
Vou partir
E7 F
Não sei se voltarei
Am7 D7 Gm Gm7
Tu não me queiras mal
Bbm6 C7 F C7
Hoje é carnaval
F Dm7 Gm7 C7
Partirei para bem longe
Gm7 D7 Db7 C7
Não precisas se preocupar
Cm7 F7 Bb7M Bb6
Só voltarei pra casa
G G7 C7
Quando o carnaval acabar, acabar

Jongos, calangos e folias. Música Negra, memória e poesia

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Kabengele Munanga: A difícil tarefa de definir quem é negro no Brasil


PARA O ANTROPÓLOGO Kabengele Munanga, professor-titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, não é fácil definir quem é negro no Brasil. Em entrevista concedida a ESTUDOS AVANÇADOS, no último dia 13 de fevereiro, ele classifica a questão como “problemática”, sobretudo quando se discutem políticas de ação afirmativa, como cotas para negros em universidades públicas.“Com os estudos da genética, por meio da biologia molecular, mostrando que muitos brasileiros aparentemente brancos trazem marcadores genéticos africanos, cada um pode se dizer um afro-descendente. Trata-se de uma decisão política”, afirma.

Kabengele Munanga é atualmente vice-diretor do Centro de Estudos Africanos e do Museu de Arte Contemporânea da USP. Nasceu em 19 de novembro de 1942 no antigo Zaire, onde recebeu sua educação primária e secundária. Sua educação superior ocorreu em seu país natal, de 1964 a 1969. Foi o primeiro antropólogo formado na então Université Officielle du Congo, em Ciências Sociais (Antropologia Social e Cultural). No mesmo ano em que se graduou, recebeu uma bolsa do governo belga, como pesquisador no Museu Real da África Central, em Tervuren e como aluno do programa de pós-graduação na Universidade Católica de Louvain, na Bélgica. Essa bolsa foi interrompida em 1971, por questões políticas, antes da conclusão de seu doutorado.

Em julho de 1975, veio ao Brasil com uma bolsa da USP, a fim de continuar seus estudos. Defendeu sua tese em 1977. No mesmo ano, voltou a seu país, mas não conseguiu permanecer lá por muito tempo. Regressou ao Brasil em 1979, para trabalhar na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Em 1980, iniciou a segunda fase de sua carreira na USP. Em 2002, o governo brasileiro concedeu a Kabengele Munanga o diploma de sua admissão na Ordem do Mérito Cultural, na classe de Comendador.

Participaram da entrevista com Kabengele Munanga, o editor de ESTUDOS AVANÇADOS, professor Alfredo Bosi, e o editor assistente, jornalista Dario Luis Borelli.

ESTUDOS AVANÇADOS – Quem é negro no Brasil? É um problema de identidadeou de denominação?

Kabengele Munanga – Parece simples definir quem é negro no Brasil. Mas, num país que desenvolveu o desejo de branqueamento, não é fácil apresentar uma definição de quem é negro ou não. Há pessoas negras que introjetaram o ideal de branqueamento e não se consideram como negras. Assim, a questão da identidade do negro é um processo doloroso. Os conceitos de negro e de branco têm um fundamento etno-semântico, político e ideológico, mas não um conteúdo biológico. Politicamente, os que atuam nos movimentos negros organizados qualificam como negra qualquer pessoa que tenha essa aparência. É uma qualificação política que se aproxima da definição norte-americana. Nos EUA não existe pardo, mulato ou mestiço e qualquer descendente de negro pode simplesmente se apresentar como negro. Portanto, por mais que tenha uma aparênciade branco, a pessoa pode se declarar como negro. No contexto atual, no Brasil a questão é problemática, porque, quando se colocam em foco políticas de ações afirmativas – cotas, por exemplo –, o conceito de negro torna-se complexo. Entra em jogo também o conceito de afro-descendente, forjado pelos próprios negros na busca da unidade com os mestiços. Com os estudos da genética, por meio da biologia molecular, mostrando que muitos brasileiros aparentemente brancos trazem marcadores genéticos africanos, cada um pode se dizer um afro-descendente. Trata-se de uma decisão política. Se um garoto, aparentemente branco, declara-se como negro e reivindicar seus direitos, num caso relacionado com as cotas, não há como contestar. O único jeito é submeter essa pessoa a um teste de DNA. Porém, isso não é aconselhável, porque, segui
ndo por tal caminho, todos os brasileiros deverão fazer testes. E o mesmo sucederia com afro-descendentes que têm marcadores genéticos europeus, porque muitos de nossos mestiços são euro-descendentes.

ESTUDOS AVANÇADOS – Em face da concessão de cotas para negros, ou para outros segmentos da população que não tiveram a mesma condição de cursar escolas da classe média ou alta, qual a sua posição?

Kabengele Munanga – Por ocasião dos trezentos anos da morte de Zumbi dos Palmares, em 1995, começamos a discutir essa questão na USP, numa comissão criada pela reitoria. Os movimentos negros, principalmente o Núcleo da Consciência Negra, pleitearam o estabelecimento de cotas em nossa universidade. Contudo, afirmei que não poderíamos discutir o sistema de cotas sem antes fazer uma pesquisa preliminar em países que já têm experiência de cotas, como os EUA, o Canadá, a Austrália ou a Índia. Naquela ocasião, apresentei essa proposta, mas ela não foi levada adiante. No entanto, na base de um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), um órgão do governo federal, conclui-se que realmente há uma grande defasagem na escolaridade dos negros nas universidades brasileiras. Infelizmente, porém, começamos a enfrentar a questão pelas cotas, a partir da decisão do governador Anthony Garotinho, do Rio de Janeiro, que provocou uma confusão muito grande, quando estabeleceu cotas nas universidades estaduais. No entanto, mesmo num país com tantas desigualdades, as políticas universalistas não resolvem o problema do negro. Para isso precisamos formular políticas específicas contra as desigualdades, mas o caminho não deve ser necessariamente por meio de cotas. Essa discussão, todavia, é importante, porque antes nem se tocava no assunto. Escutei outro dia algo muito positivo quando alguém dizia que deveria haver cotas para pobres. Ora, antes ninguém apresentou esse ponto de vista. O que mais me surpreende é que jamais o movimento negro se disse contrário a cotas para brancos pobres. A questão ainda está mal discutida, sendo formulada num tom passional, tanto pelos negros como pelos intelectuais. A questão não é a existência ou não das cotas. O fundamental é aumentar o contingente negro no ensino superior deboa qualidade, descobrindo os caminhos para que isso aconteça. Para mim, as cotas são uma medida transitória, para acelerar o processo. No entanto, julgo que não somente os negros, mas também os brancos pobres têm o direito às cotas. Se as cotas forem adotadas, devem ser cruzados critérios econômicos com critérios étnicos. Porque meus filhos não precisam de cotas, assim como outros negros da classe média.

ESTUDOS AVANÇADOS – O sr. iniciou suas declarações dando uma opinião contra as cotas, mas agora aponta para o problema da urgência. As cotas aparecem como uma medida de urgência?

Kabengele Munanga – Sim. Ao menos que o país diga que tem hoje uma outra proposta emergencial melhor, que não abra mão de uma política universalista com vistas ao aperfeiçoamento do nível do ensino básico. É bom lembrar que a escola pública já apresentou melhor qualidade, mas o negro e o pobre não entravam nela.Melhorar a escola pública

ESTUDOS AVANÇADOS – O sr. acha que a médio prazo a alternativa seria uma transformação mais profunda do ensino básico e secundário? Um número considerável de alunos negros faz o segundo grau em escolas públicas. Não falo deles como negros, mas sim como pobres. Será que as cotas não resolvem o problema porque o enfrentam no fim da linha, em vez de atacá-lo no começo?

Kabengele Munanga – Sim. Porém, vivo aqui há 28 anos e desde que cheguei escuto esse discurso. Mas nunca vi luta política e social alguma para a melhoria da escola pública. Só há o discurso. Mas o que fazer com a vítima? Esperar que isso aconteça por milagre, ou pressionar a sociedade através de uma proposta: como pelo menos cuidar da escola pública? A dúvida que tenho é a seguinte: num país onde a privatização do ensino é cada vez maior e no qual o lobby das escolas particulares é tão forte, só posso antever uma melhoria a longo prazo. Lembro-me de que o primeiro processo contra as propostas de cotas no Rio de Janeiro veio do sindicato das escolas privadas. Devido a essa tendência para a privatização das escolas públicas, não acredito numa rápida melhoria delas. A desigualdade social que existe há quatrocentos anos não pode ser resolvida por meio de políticas universalistas. É preciso, portanto, traçar políticas específicas para se encontrar uma solução. A discriminação racial A palavra “social” incomoda-me muito. Quando dizem que a questão do negro é uma questão social, o que quer dizer “social”? As relações de gênero são uma questão social; a discriminação contra o portador de deficiência é uma questão social; a discriminação contra o negro é uma questão social. Ora, o social tem nome e endereço. Não podemos diluir, retirar o nome, a religião e o sexo e aplicar uma solução química. O problema social tem de ser atacado especificamente. A discriminação racial precisa ser urgentemente enfrentada. Nós, negros, também temos problemas de alienação de nossa personalidade. Muitas vezes trabalhamos o problema na ponta do iceberg que é visível. Mas a base desse iceberg deixa de ser trabalhada. Estou aqui, como disse, há 28 anos. Vou a restaurantes utilizados pela classe média e a centros de alimentação nos shoppings. Encontro famílias brancas comendo (homem, mulher e filhos), mas dificilmente estão ali famílias negras. Há uma classe média negra, mas que se autodiscrimina e que é também discriminada. Desafio vocês a me dizerem que encontraram quatro famílias negras em cinco restaurantes de classe média em São Paulo. Vejamos o meu caso: em meu segundo casamento (que é interracial) percebia aquelas “olhadas” – mulher branca, filhos negros do primeiro casamento e filhos mestiços do segundo. Ninguém me expulsava desses lugares, mas eu via as “olhadas”...

ESTUDOS AVANÇADOS – A USP está completando setenta anos e gostaria que o sr. falasse sobre as principais linhas de pesquisa sobre gênero e raça na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.

Kabengele Munanga – Até onde eu saiba não há uma linha de pesquisa sobre gênero e raça. Há um núcleo de estudo da mulher, dirigido pela professora Eva Blay. De vez em quando ela convida alguma jovem pesquisadora negra. Talvez exista uma explicação histórica para isso, porque normalmente quem estuda esse tema são as mulheres. Mas, não temos professoras negras de sociologia ou de antropologia na Universidade de São Paulo. Entrei nela em 1980, como professor, e nunca mais houve um outro professor negro no Departamento. Lembro-me do dia em que Florestan Fernandes recebeu o título de professor emérito e eu estava na fila para cumprimentá-lo. Eu não sabia que ele me conhecia. Por isso assustei-me quando ele me disse que estava muito contente com a minha presença naquela solenidade. Pois fora informado de que ali estava um negro que nem era brasileiro. Um antropólogo em dois mundos

ESTUDOS AVANÇADOS – O sr. poderia descrever um pouco sua trajetória até chegar no Brasil?

Kabengele Munanga – Nasci no antigo Zaire, que hoje se chama República Democrática do Congo, numa aldeia no centro do país. Estudei num colégio interno de jesuítas e fiz graduação em Antropologia. Aliás, fui o primeiro antropólogo formado naquela universidade e o único aluno que teve aulas com professores franceses, belgas e americanos convidados, pois não havia ainda professores africanos na Universidade quando eu entrei Lá, nós acabávamos a graduação com um tipo de dissertação que se chamava Mémoire. O sistema belga dava o direito de se entrar diretamente no doutorado. Em razão disso, comecei o doutorado em Louvain, na Bélgica, em 1969. Dois anos depois, voltei para pesquisas de campo. Mas houve complicações políticas. Cortaram a bolsa e não pude fazer mais nada. Por coincidência, encontrei no Congo, em 1973, o professor Fernando Mourão, que ali estava realizando palestras sobre as contribuições africanas para a cultura brasileira. Conversamos e ele me disse que a USP possuía um projeto de cooperação com as universidades africanas e que nela eu poderia completar o doutorado. Cheguei aqui em 1975 e me inscrevi no doutorado, sob a orientação do professor João Batista Borges Pereira. Como eu estava bastante adiantado, em dois anos defendi minha tese. Trabalhei sobre o processo de mudanças socioeconômicas numa comunidade no sul do Congo. Voltei correndo à militância para colocar meus conhecimentos à disposição de meu país. Mas quando cheguei lá, tive de fugir para o Brasil. Quando houve a independência do meu país, o antigo Zaire (em 30 de junho de 1960), eu estava com dezoito anos. A Faculdade foi criada pela Bélgica, seis anos antes da independência, em conseqüência de pressões internacionais. Fui alfabetizado na minha língua materna, mas no fim do primeiro grau começou o ensino em francês. O resto do curso foi em francês. Isso porque, com mais de duzentas línguas, não era possível escolher uma para ser a língua nacional. Todos os alfabetizados falam francês.

ESTUDOS AVANÇADOS – Alguma dessas línguas africanas é hegemônica?

Kabengele Munanga – O suahili que é uma língua falada em muitos países africanos, em parte do Zaire, Tanzânia, Burundi, Quênia e Uganda.

ESTUDOS AVANÇADOS – Suahili tem alguma coisa a ver com o árabe?

Kabengele Munanga – Cerca de vinte por cento do vocabulário, porque desde a Antigüidade os árabes tiveram muita influência no continente, a partir do oceano Índico, além de terem sido responsáveis pelo tráfico oriental e transaariano (entre os anos de 600-1600). Mas a estrutura da língua é totalmente bantu (africana).

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Omara Portuondo, a intérprete da emoção cubana

Omara Portuondo é dona de voz macia e intensa, que aos seus 75 anos é considerada a melhor artista cubana nesta vertente, tendo sido a protagonista duma das passagens mais comoventes no documentário "Buena Vista Social Club" do realizador alemão Wim Wenders, filme que acabou por celebrizar internacionalmente a música cubana e os seus intépretes.

A sua vida artística começou verdadeiramente por uma ironia do destino, em 1945. Inúmeras vezes, Omara assistia aos ensaios de sua irmã, Haydee, no conceituado cabaret 'Tropicana' em Havana. Por acidente, Portuondo acabaria por preencher o lugar de uma bailarina que, há uns dias da estreia do espectáculo, se despedira sem deixar rasto. Como já sabia o papel de cor, Omara agarrou a oportunidade com garra. Este seria o ponto de viragem na vida de Omara Portuondo iniciando, primeiramente, uma carreira como bailarina com a ajuda do talento de Rolando Espinosa. Aos fins-de-semana actuava no grupo Loquibambla Swing, cantando temas conceituados do jazz americano. Mais tarde, em 1952, formaria um dos mais importantes quartetos femininos na história da música cubana.

Omara primeiro integrou um grupo chamado "Cuarto de Orlando de la Rosa", tendo-se unido depois à banda feminina Anacona. É então em 1952, que passou a fazer parte do quarteto Aida Diestro, onde permaneceu por quinze anos. Durante esse tempo, desenvolveu a sua carreira a solo, trabalhando com vários artistas lendários do mundo do espectáculo, como foi o caso de Nat King Cole e Edith Piaf.

Magia Negra (1959) foi o primeiro álbum a solo de Omara, marcante no "enamoramento" entre os sons quentes de Cuba e o jazz norte-americano, "personificado" nas versões dos temas "Caravana" (de Duke Ellington) e "The Old Black Magic". Mais tarde seguir-se-iam Esta Es Omara Portuondo, 'Palabras', 'Desafios'. Omara chegou, em 1995, a gravar com os The Chieftains por intermédio de Ry Cooder, que a convidaria igualmente para encabeçar um fantástico bolero com Compay Segundo, para o álbum Buena Vista Social Club. Hoje, Omara Portuondo dirige sua própria orquestra em Cuba.

Assista ao vídeo: Maria Bethania e Omara Portuondo

Baianidade em pessoa - Dorival Caymmi comemora 94 anos em família, com bolo e guaraná

Responsável em grande parte pela identidade cultural que a Bahia construiu no país e no exterior desde o final da década de 1930, o cantor e compositor Dorival Caymmi completa 94 anos, hoje, em seu apartamento em Copacabana, no Rio de Janeiro, ao lado da mulher, Stella Maris, 86, e dos seus três filhos (Nana, Dori e Danilo), sete netos e cinco bisnetos.

Pode-se falar numa tripla e íntima comemoração: ontem, Nana Caymmi fez 67 anos e hoje Dorival e Stella também celebram 68 anos de casamento (eles se conheceram quando ela se apresentava num programa de calouros da lendária Rádio Nacional). A festa, com bolo e guaraná, acontece no final da tarde, informa por telefone uma bem-humorada e realista Nana.

“A família vai estar toda reunida. Dori (NR: o compositor e arranjador mora em Los Angeles, nos EUA) veio para o aniversário. Todos os filhos, netos e bisnetos estarão juntos. Mamãe vai comer bolos alemães, que não têm açúcar, e os de papai são feitos em casa mesmo. Também mandei fazer um caruru para ele dar uma bicada. Espero não matar o papai (risos)”.

Nana, que entra em estúdio no final de maio para gravar um álbum de inéditas temperado por algumas regravações, mora no Leblon, mas visita os pais todo dia. “Tem aparato de enfermagem, mas fico 24 horas no ar, principalmente por causa da mamãe que é um poço de doenças. Papai tem problemas de velho, ouve pouco, não lê mais e não toca mais, o que é difícil para ele. Felizmente, mantém-se lúcido e é muito paciente”.

Diferentemente do antigo apartamento, a nova morada de Caymmi, na Praça Lido, tem vista para o mar e árvores. “Até achei que ele não ia gostar, porque velho não gosta de mudar. O outro, que fica também em Copacabana, foi cercado por prédios. Papai tem síndrome de maresia. O novo dá pro mar, bate muito sol e ele tá lá contente com a tartaruga que ganhou”.

Um dos precursores da bossa nova e maior baiano vivo, Caymmi pegou um navio em Salvador em 1938, aos 22 anos, rumo ao Rio, onde produziria, via sambas-canções, a parte urbana da sua obra. A Bahia, porém, tão bem cantada por ele em hinos como A lenda do Abaeté, É doce morrer no mar, Saudade de Itapoã e Samba da minha terra, nunca deixou de ser a sua essência.

Na verdade, o mestre da música popular brasileira com suas canções praieiras criou uma sociedade ideal, com pessoas simples e felizes, personagens folclóricos, lugares lindos, clima agradável... Uma Bahia utópica e que, juntamente com a literatura do amigo e cúmplice Jorge Amado (1912-2001), difundiu mundo afora a identidade baiana que conhecemos hoje.

Uma imagem tão deliciosa quanto os doces e as comidas que Caymmi apreciava na infância e adolescência passadas na boa terra. “Graças à família Burgos, sempre tem comida da Bahia para ele aqui, tipo puba e acaçá, que é um bolo de milho enrolado, ainda quente, em folha de bananeira. Eu não vejo isso nem mais aí na Bahia. E não pode faltar farinha”, conta a filha.

Em agosto de 2006, depois de 11 anos sem pisar em Salvador, Caymmi voltou à cidade para receber o Prêmio Nacional Jorge Amado de Literatura e Arte. “A Bahia que ele carrega no coração é uma Bahia que não existe mais. Agora mesmo, ele ficou triste ao saber que o novo gabarito de Salvador permite a construção de prédios de até 18 andares na orla”, diz Nana.

***

Um arquiteto da canção brasileira

Em Dorival Caymmi, autor de cerca de cem composições, qualidade, e não quantidade, produziu uma obra extremamente singular e que pode ser considerada como um dos pilares da construção da canção brasileira. A sua folclórica fama de preguiçoso deve ser entendida, na verdade, como uma grande virtude, um traço perfeccionista da sua personalidade musical.

Através da batida do seu violão (aparentemente primitiva, mas espontaneamente inspirada nas harmonias de compositores eruditos como Ravel, Debussy, Bach e Mussorgski) e do seu canto confidente, o homem praieiro, a herança africana, os personagens baianos, as mulheres sestrosas e até um sentimento de carioquismo cruzaram os limites culturais e dionisíacos de um Brasil que fazia a transição entre o rural e o urbano.

A música de Caymmi é um grande exemplo de confluência entre o simples e o sofisticado a partir de elementos naturais como o vento, o mar, a morena e a terra. Uma confluência traduzida em canções praieiras, sambas, sambas-canções e toadas tão autorais (ele foi um dos primeiros compositores do país a gravar suas próprias canções), que o transformaram no melhor intérprete de si mesmo. A Bahia lhe deve muito. (HB)

terça-feira, 22 de abril de 2008

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Akon - hip-hop americano de origem senegalesa

Aliaune Damala Bouga Time Puru Nacka Lu Lu Lu Badara Akon Thiam, mais conhecido como Akon, (Dakar, Senegal, 30 de Abril de 1973) é um cantor de R&B e hip-hop americano de origem senegalesa, também é compositor, rapper e produtor musical. Akon chegou à fama em 2004 na sequência do lançamento de seu single "Locked Up" a partir de seu álbum de estréia Trouble. Seu segundo álbum, Konvicted, ganhou uma nomeação para o Grammy Award junto com o single "Smack That". Ele é o fundador da Konvict Muzik e Kon Live Distribution. Ele é conhecido por fazer ganchos com vários artistas e tem mais de 130 aparições como convidado e 21 canções na Billboard Hot 100 para o seu crédito. Ele é o único artista a conseguir a façanha de ficar ao mesmo tempo em primeiro e em segundo lugares simultaneamente na carta Billboard Hot 100 duas vezes, com "Don't Matter" e "The Sweet Escape". Akon é filho do percussionista de jazz, Mor Thiam e fala inglês, francês e wolof.

Nome e idade
Akon muitas vezes abreviado, Aliaune Thiam,embora outras fontes tenham dito que seu nome é Alioune Badara Thiam,e a About.com diz que seu nome é mais longo, contendo, "Lu Lu Lu", não foi autonomamente verificada. Sua idade foi descoberta recentemente. No entanto, desde então, a AP relatou que ele nasceu em 1973 e tem 35 anos. Algumas instituições da mídia relatou que ele nasceu em 1981. Em setembro de 2007, em uma entrevista para uma Revista Israelita, Akon revelou que a idade dele era entre 25 ou 26 anos.

Antecedentes
Ele é filho do percussionista senegalês Mor Thiam. Ele é um muçulmano nascido em St. Louis, Missouri , mas cresceu no Senegal até que aos 7 anos, dividiu o tempo entre Senegal e Estados Unidos até que ele foi aos 15 e, em seguida permanentemente transferido para Jersey City, Nova Jersey. Ele gravou sua primeira canção, "Operations of Nature", com quinze anos. Ele foi posteriormente preso por assaltos à mão armada e distribuição de drogas, e usou seu tempo na prisão para trabalhar em sua música. Após a liberação, Akon começou a escrever e gravar faixas em sua home studio. As fitas o levaram a ser contratado pela SRC/Universal, que Akon lançou seu álbum de estréia Trouble, em Junho de 2004. A maioria das canções de Akon começa com o som do clank de uma prisão e um celular com ele á proferir a palavra "Konvict."



quarta-feira, 2 de abril de 2008

Claudia Rizo - Quente

OLHOS DE RIZO – meu mais novo companheiro musical

Pois é! Tive acesso hoje ao já tão bem comentado “Olhos de Rizo”, da negra linda Cláudia Rizo; o álbum é uma pérola rara num ambiente musical que carecia dessa inovação estética. É uma obra ousada: brilhante na proposta, extraordinária no resultado. Trata-se, para mim especialmente, da consolidação de um projeto pessoal, mas de construção coletiva, voluntariamente coletiva; daí porque a beleza plástica que mina de todos os lados do disco; daí porque o sentimento de nostalgia dos velhos vinis: como seria bom tê-la, Claudinha, nos velhos bolachões, única maneira de consumir o romantismo com o alma repleta de alegria.

A faixa um do disco, QUENTE... bom, há uma suspeição no ar, mas devo afirmar que você soube vesti-la com uma beleza cujos próprios compositores jamais imaginaram ser possível; a canção (assim devo chamá-la?) é um belo presente romântico para os ouvidos bem-educados; a roupagem instrumental, a leveza vocal, o encontro de ambos, a sensibilidade de sabê-la uma canção de amor sem dor e recriá-la para este ambiente de contemplação amorosa foi uma bela sacada; foi uma sacada interessantíssima...

Em NOVA ESTAMPA, você, Graco e João Omar me levaram à comoção plena: Villa-Lobos regozijou nos espaços musicais que habita e se reconheceu ali, no piano, no cello, na letra, na voz, no doce perfume que emana de uma canção simples, coisa tão rara e tão necessária: simplicidade e sofisticação, este casamento perfeito legou-me momentos de puro prazer espiritual. Passei a seguir os passos labirintos e me entregar à comoção do amor. Imaginei roteiros para tantos filmes fulminado pela inspiração derivada daquele som.

A auto-biográfica ILHA DE MIM é linda a partir do próprio objetivo: fala-se si ao falar do mundo, das pessoas, das solidões, do desejo de reconstrução de desejos; o blue-breque é, no disco, a interpretação que Claudinha faz do mundo e de si mesmo, acotovelando com sua habitual verve vocabular aqueles cujas vidas se curvam à mesmice, tão funesta. O conceito da letra e da melodia, noturnas por concepção, instigou-me a imaginar o drama para construção desse arranjo, em si mesmo repleto de desejos e de um vocabulário vasto de emoções.

Não precisavam me dizer. Eu saberia em quaisquer circunstâncias: O SAMBA ME MALTRATA é uma evidente produção ricardina. Desnecessário alongar-me em considerações quanto à habilidade deste moço em traçar idéias sobre nosso cotidiano, tão vulnerável, de operário. A metáfora do couro do tamborim, este amor afetuoso e conflituoso entre mulher, malandro e samba – tão à moda buarquina – recebeu uma roupagem que merece aplausos permanentes; fiquei presa a ela horas até desembarcar embasbacado n’UM TOM MEIO ZÉ, esta verdadeira celebração daquele que é, para mim, o nosso instrumento-patrimônio-raiz: o velho pandeiro. Encontrei Ricardo Marques (o nosso velho músico dos saraus) anos atrás descendo a Rua dos Fonsecas ensandecido: acabara de compor esta que, naquele momento, ainda não tinha sequer título. Parou-me ali mesmo para mostrar sua mais nova produção musical: “vamos compor?”. Eu disse: “Não. Está completa e acabada”. Foi um naufrágio emocional involuntário ouvi-la enquanto descia a Bartolomeu de Gusmão na velha companheira bike. Até o céu se transformou e me mostrou a permanência daquilo que tem vida.

PÂO DE QUEIJO E ACARAJÉ é uma letra maldosa numa melodia safada, composta para ser cantada por uma língua vadia. Parafraseando o velho Augusto, o homem por sobre quem caiu a chaga da tristeza do mundo é mais feliz que este de seu relato musical tão sincero, e tão cortante. Seja como for, vou guardá-la para os momentos de malandragem verbal, erguê-la como símbolo de deboche contra o ocaso da intelectualidade; palavras que arranham os velhos chavões e arruínam as almas dos que arrocham e se incomodam com saias curtas.

Estou redondamente enganado ou TENTAÇÃO foi encomenda? Não há quem não diga que as artes ali narradas – as perversas e as amorosas – não sejam a reprodução do modus vivendi desta menina linda, que é, sim, uma verdadeira tentação, no que há de gozo e sofrimento nesta condição. Ricardo sabia do que estava falando: fez algo que assemelha em gênero, número e grau ao rizo: urbana, noturna, metropolitana, expansiva e (in) deletéria. Só uma nota: esse baixo de PP está destrutivo; é um componente que encerra: é um tsunami capaz de suspender o Japão.
Tom Jobim foi revisitado com uma originalidade inigualável em OUTRA METADE, que queima e arde meus tímpanos com a beleza plástica e a sentimentalidade latente ali presente. Linda. Extraordinária. Apoteótica e.. simples. Faltou-me oxigênio. Me vi assim, como em Ilha de Mim, só na multidão. Naveguei nas teclas do piano e voltei ao tempo que passávamos as tardes, sós, no velho auditório da UESB, tocando aquele piano que já tinha o seu cheiro, o seu sabor.

DOIS DESTINOS tem uma melodia que parece querer transportar-nos a eras longínquas da existência. Mas, para ser bastante sincero, merecia uma letra melhor. Por isso, paro por aqui. Amei DESLIGUE A LUZ. Ouvi o quanto pude. Você estava inspiradíssima na gravação. Música, poesia e intérprete se fundiram numa musicalidade fascinante. Jazz, blue e forró: foi a mais nova semente da flor no meu presente.

OLHOS DE RIZO, olhos de lince: ali é evidente o dedo inspirador de Luciano PP. É uma viagem musical que transporta a luz do expresso 2222. Rasgar a voz foi uma necessidade numa poesia que grita por um amor? Esi aqui o resultado perfeito de uma união cuja vitalidade reside na sensibilidade e na simplicidade, primas-irmãs da beleza.

INDECISÃO é mais uma canção claudiniana, por excelência. Vislumbrei tantas coisas boas naquele curto espaço de tempo que me vi compelido a lançar-me outras vezes ao mesmo ambiente musical: quando absurdamente exaurido, fugi pra QUIZUMBA. Esta, sim, feita para fechar com chave de ouro o já aurífero CD. Espantosa criação humana, senti-me em verdadeiro estado de reencontro com nossa afro ancestralidade. Curvei-me à beleza por sabê-la fruto de encontros venturosos.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Acesse o blog do Paulo Nunes

Informação segura, rápida e de senso crítico apurado. Acesse o Blog do Paulo Nunes: blogdopaulonunes.com e fique bem informado o dia todo.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Noite de Terror: Itamar Assumpção

Embalo, com Itamar Assumpção

Itamar Assumpção: urbano, experimental, ritmado, universal...


Itamar Assumpção nasceu em 1949 na cidade de Tietê, interior de São Paulo. Descendente de escravos angolanos, o cantor ouvia desde pequeno a música dos terreiros de candomblé, que vinham do quintal da sua casa. De 63 a 73, Itamar morou no Paraná e lá iniciou sua carreira musical, largando um curso de contabilidade. Na época, conheceu Arrigo Barnabé, um de seus parceiros mais constantes. Em 1973, Itamar mudou-se para São Paulo. Em 1980, lançou seu primeiro LP: Beleléu, Leléu, eu, com a banda Isca de Polícia. Tanto este como os dois lançamentos seguintes (Às Próprias Custas, de 1983, e Sampa Midnight, de 1986) foram feitos de maneira independente.

A voz percussiva de Itamar, ora cantada, ora falada ajusta-se perfeitamente às suas letras irreverentes, permeadas de irônicas observações sobre o cotidiano da cidade grande. Explorando a teatralidade na sua forma de expressão musical, também atingiu um modo peculiar de cantar. Com arranjos bem elaborados, explorando polirritmias, jogando com os sons e fonemas das palavras, misturando num mesmo caldeirão o rock, o samba, o funk, o soul, o blues e o reggae, construiu uma obra difícil de ser categorizada e assimilada comercialmente. Conforme escrito na contracapa do seu segundo LP, "Às Próprias Custas S.A."(produção independente de Isca Gravações Musicais Ltda., gravado ao vivo, em 1983), a sua música é autodefinida como "jovem para todas as idades, popular, urbana, universal, experimental, ritmada, instrumental, cantada, berrada, sussurrada, sutil, tropical, tal e tal".

O Festival de Música da Feira de Artes da Vila Madalena, promovido pelo teatro Lira Paulistana, em agosto de 1980, revelou o "Nego Dito", canção que ficou em terceiro lugar. O trabalho criativo de Itamar, o sucesso de público e as produções fonográficas independentes que vinham se tornando viáveis, motivaram a criação do selo Lira Paulistana. Seu primeiro disco, "Beleléu, leléu, eu", mistura diversos ritmos estrangeiros ao samba, resultando num trabalho de grande elaboração rítmica, mas também com sensível conteúdo poético, que seria marcante durante toda a sua carreita, ao estabelecer parcerias com Alice Ruiz e Paulo Leminski, entre outros poetas.

Fonte: Anais III Fórum de Pesquisa Científica em Arte
Escola de Música e Belas Artes do Paraná, Curitiba, 2005

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

"Músico": Carlinhos Brown, Marisa Monte e Bebo Valdez

Carlinhos Brown: musicalidade e encontro de culturas

Porto de chegada de culturas várias através dos séculos, a Bahia frutifica e se renova, num estado de permanente formação. Europeus, africanos, indígenas, orientais... os ventos e raças conflitam e se fundem dando origem a um jeito de ser baiano. Salvador, sua capital, acolhe e abriga em seus nichos estes filhos venturosos, aplaudindo a maravilha da miscigenação.

Dentro deste universo, floresce e resiste às mutações do tempo a comunidade do Candeal Pequeno, com características tribais de relacionamento sócio-econômico, em que a família é base, eixo e ninho de onde se arremessa o filho para o vôo. Ali, em 1962, nasce Antônio Carlos Santos de Freitas, de negra pele que transpira curiosidade, negros olhos que captam e espelham novos tons.

Este pequeno aguadeiro acaba por desaguar nos veios do Mestre Pintado do Bongô - Osvaldo Alves da Silva - seu condutor no fluido musical. Mestre Pintado ensina ao menino Carlinhos mais que tocar instrumentos, ele o ensina a como “trabalhar com música” - o que seria fundamental na sua formação - e vaticina a sua projeção artística.
Das mãos de Mestre Pintado, em sua companhia pelas noites festivas dos bares e casas de show da fervilhante Salvador da década de 70, Carlinhos parte do Candeal para desfrutar de uma rica convivência no diversificado ambiente musical dos festivais promovidos pelos colégios da cidade e, desde então, como músico e compositor, desperta a atenção dos que o cercam por sua inata competência na arte de fundir, redescobrir e percutir sons.

Dançando na rua, a música e a dança das ruas, ganha a alcunha que lhe será bandeira: Carlinhos Brown, como o músico James Brown, como o militante H. Rap. Brown - Black Panther - sendo o próprio Carlinhos uma fusão de músico e militante, não de uma raça, mas de uma rica multiplicidade cultural. A música de Carlinhos Brown é extremamente abrangente, comunica não por ser a música em si uma linguagem universal mas, por sua música ser visceral e espiritual, que ecoa pelo vento, nos quatro cantos e por todos os lados, partindo das raízes da terra.

Brown redescobre e reinventa o timbau como seu instrumento de escolha, por sua flexibilidade e versatilidade, que são elementos também dele próprio. Mas ele é mais que um percussionista, é um prisma de sons que se coloca como receptáculo e veículo de uma obra maior que ele mesmo.

Partindo do ambiente musical vivido no Candeal entre sopros, batuques e canções, ouvindo a música das ruas e das coisas, trança uma trajetória dinâmica e rica tocando, arranjando e compondo com e para os mais diversos artistas e grupos, representantes de variados estilos, passando por todos eles como mestre e aprendiz.

No começo dos anos 80, chega aos estúdios WR e ali aprende técnicas de sonorização e produção - aprendizado que mais tarde se materializaria em "Ilha dos Sapos", seu estúdio, com equipamentos de última geração e totalmente voltado para a viabilização do melhor rendimento dos artistas - de onde produzirá, entre outros, CDs de Margareth Menezes e Arnaldo Antunes.

Brown segue penetrando em todos os meios musicais e percorrendo diversas vertentes aperfeiçoando os seus dons. É um descobridor, um experimentador que não teme riscos e extremamente produtivo, chegando, em 1985, a ter vinte e seis músicas tocando nas rádios - pelo que ganha o Troféu Caymmi, mais importante prêmio da música baiana.

Fonte: Site Oficial de Carlinhos Brown
www.carlinhosbrown.com.br

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Agentes de Pastoral Negros elegem nova coordenação na Bahia

Os Agentes de Pastoral Negros da Bahia – QUILOMBO MALÊS realizaram nesta sábado (16), no município de Vitória da Conquista, Assembléia Geral para definição do calendário de atividades para o biênio 2008/2009, eleger delegados para a assembléia nacional (Março, em São Paulo) e eleger sua nova coordenação. O jornalista e historiador Fábio Sena, 33, foi eleito coordenador-geral da entidade no Estado.

Durante a assembléia, foi aprovado manifesto em defesa da ex-ministra Matilde Ribeiro, moção de aplauso ao secretário estadual Luiz Alberto pelo trabalho desenvolvido à frente da Secretaria Estadual de Promoção da Igualdade da Bahia/Sepromi e uma defesa do seu nome para assumir a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial/Seppir. A assembléia entendeu que, embora já tendo havido a indicação do deputado federal Edson Santos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o cargo, seria necessário firmar o nome de consenso dos APN’s baianos para o cargo.

Para Fábio Sena, o movimento negro brasileiro enfrenta uma das mais difíceis etapas da luta anti-racista no Brasil. “O aprofundamento do debate acerca das ações afirmativas nos diversos níveis mobilizou os setores historicamente beneficiados pela exclusão social e econômica dos negros. Neste momento, é necessária uma ação política bem definida de combate aos ataques especialmente da mídia, que têm usado como tática de luta a desqualificação das bandeiras do movimento negro, principalmente a questão das cotas raciais nas universidades”.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008



Zé Kéti (José Flores de Jesus) nasceu no Rio de Janeiro RJ em 06 de Outubro de 1921. Neto do flautista e pianista João Dionísio Santana, companheiro do compositor Índio e de Pixinguinha, e filho de um marinheiro tocador de cavaquinho, Josué Vale de Jesus, desde criança interessou-se por música. Aos 13 e 14 anos, quando morava no subúrbio de Piedade, foi levado por Geraldo Cunha, compositor do G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira e parceiro de Carlos Cachaça, para assistir a ensaios daquela escola, seu primeiro contato com a música dos morros. Mais tarde, mudou-se para o subúrbio de Bento Ribeiro e foi levado para o G.R.E.S. da Portela pelo compositor, e depois presidente da escola, Armando Santos. Começou a desfilar em sua ala dos compositores e a compor, sem mostrar suas músicas a ninguém, só o fazendo mais tarde, aos 18 anos, quando já freqüentava as rodas boêmias do Café Nice, levado por Luís Soberano. Afastou-se dos meios musicais entre 1940 e 1943, quando serviu como soldado na Policia Militar. Por essa época, compôs sua primeira marcha carnavalesca, Se o feio doesse. Teve sua primeira composição gravada, Tio Sam no samba (com Felisberto Martins), pelos Vocalistas Tropicais, em 1946. No mesmo ano, Ciro Monteiro gravou para o Carnaval, com Raul de Barros (trombone), Gilberto (ritmo) e Odete Amaral (coro), Vivo bem (com Ari Monteiro). Em 1952, Linda Batista lançou em disco Amor passageiro, sucesso no Carnaval desse ano. Seu êxito seguinte foi Leviana, lançado como samba de terreiro na Portela e mais tarde gravado por Jamelão.

Antes de 1954, afastou-se da Portela por acusações que punham em duvida a autoria de suas músicas, transferindo-se então para a União do Vaz Lobo. Aí lançou A voz do morro, gravada em 1955 por Jorge Goulart, com grande sucesso. Em 1955, A voz do morro e Leviana foram incluídas no filme Rio, 40 graus, de Nelson Pereira dos Santos. Retornou a Portela e, em 1960, participou das atividades musicais do restaurante Zicartola, atuando como apresentador dos velhos compositores, ainda então desconhecidos do público, como Cartola e Nelson Cavaquinho, e dos novos, como Paulinho da Viola e Elton Medeiros. Em 1961 lançou, na quadra de ensaios da Portela, o samba Velha guarda da Portela, obtendo sucesso. Nesse ano ainda, o cantor Germano Matias gravou com êxito o samba Malvadeza Durão. Em 1962, o compositor, aproveitando o sucesso do samba A voz do morro, idealizou um conjunto homônimo que começou a ensaiar com a participação de Nelson Cavaquinho, Cartola, Elton Medeiros e Jair do Cavaquinho. Em 1964, ao lado de Nara Leão e João do Vale, encenou o show Opinião, em que lançou alguns sambas de sucesso, como Opinião, Acender as velas e Diz que fui por aí (com Hortênsio Rocha). Por essa época, Nara Leão gravou em seu primeiro disco solo (Nara) o samba Diz que fui por aí.

Em seu disco Opinião de Nara, ela incluiu duas outras composições suas, Opinião e Acender as velas. Também em 1964, Germano Matias lançou Nega Diná e O assalto e, no ano seguinte, o compositor recebeu convite da Musidisc para gravar seus sambas numa fita a ser entregue aos cantores da gravadora, para escolha de repertório. Lá compareceu, levando outros sambistas até então desconhecidos, como Paulinho da Viola, Nescarzinho do Salgueiro, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, Oscar Bigode e Zé Cruz, que fizeram o acompanhamento e apresentaram seus sambas. A gravadora resolveu lançar então o LP Roda de samba, com o conjunto de sambistas denominado A Voz do Morro, concretizando antigo plano seu. Esse mesmo conjunto, com Nelson Sargento, gravou mais dois LPs, um pela Musidisc (1965) e outro pela RGE (1966). O compositor teve ainda dois sambas, em parceria com Elton Medeiros – Mascarada e Samba original – gravados no LP Na madrugada, interpretado por Paulinho da Viola e Elton Medeiros, lançado pela RGE em 1966. Para o Carnaval de 1967, compôs a marcha-rancho Mascara negra (com Hildebrando Pereira Matos), embora a primeira parte tenha sido atribuída ao irmão deste, Deusdedith Pereira Matos. Foi um dos maiores êxitos de sua carreira. Tem-se apresentado em shows de televisão e em boates. No cinema, em 1957 teve seus sambas Malvadeza Durão e Foi ela incluídos no filme Rio, zona norte, de Nelson Pereira dos Santos.

Em 1958, sua música A flor do lodo foi incluída no filme Grande momento, de Roberto Santos. Seus sambas também seriam incluídos nos filmes Boca de ouro (1962), de Nelson Pereira dos Santos. A falecida (1965), de Leon Hirszman, e A grande cidade (1966), de Carlos Diegues. Nas décadas de 1970 e 1980, morou em São Paulo SP. Em 1990, de volta ao Rio de Janeiro, participou de uma remontagem do show Opinião. Em 30 de dezembro de 1994, durante show de Paulinho da Viola com a Velha Guarda da Portela, no Leme, Rio de Janeiro, subiu ao palco a convite e cantou varias músicas. Em 1996, aos 75 anos de idade e mais de 200 músicas compostas, gravou o primeiro CD da série Rio Arte Musical, produzido por Henrique Cazes, com quatro músicas inéditas e vários antigos sucessos. Ainda em 1996, em junho, o cantor Zé Renato (ex-Boca Livre) lançou o CD Natural do Rio de Janeiro, com 14 músicas suas. Em outubro desse mesmo ano, subiu ao palco junto com a cantora Marisa Monte e a Velha Guarda da Portela (Jair do Cavaquinho, Monarco, Casquinha e Argemiro) e interpretou com enorme sucesso alguns clássicos do samba, como A voz do morro e O mundo é um moinho (Cartola), entre outros. Em 1997 completou 60 anos de carreira e foi homenageado com o show Na Casa do Noca, na Gávea, Rio de Janeiro. Ainda em 1997, recebeu da Portela um troféu em reconhecimento por seu trabalho e participou da gravação do disco Casa da Mãe Joana. A Editora Globo lançou, em 1997, o fascículo com CD Zé Kéti na coleção MPB Compositores, n.º 32.

Biografia: Enciclopédia da Música Brasileira

Luiz Melodia, o pai da música


Luiz Melodia, nome artístico de Luiz Carlos dos Santos (Rio de Janeiro, 7 de janeiro de 1951) é um cantor e compositor brasileiro de MPB.

Começou sua carreira musical em 1963 com o cantor Mizinho, ao mesmo tempo em que trabalhava como tipógrafo, vendedor, caixeiro e músico em bares noturnos. Em 1964 formou o conjunto musical Os Instanâneos, com Manoel, Nazareno e Mizinho. Lança seu primeiro LP em 1973, Pérola Negra. No "Festival Abertura", competição musical da Rede Globo, consegue chegar à final com sua canção "Ébano".

Nas décadas seguintes Melodia lança diversos álbuns e realiza shows, inclusive internacionais. Em 1987 apresenta-se em Chateauvallon, na França e em Berna, Suíça, além de participar em 1992 do "III Festival de Música de Folcalquier" na França.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Edson Santos é confirmado no Ministério da Igualdade Racial

O deputado federal Edson Santos (PT-RJ) será o nome escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assumir o Ministério da Igualdade Racial. A indicação foi confirmada nesta quarta-feira por petistas.

Ex-vereador, Edson Santos era um dos nomes cotados para ser o candidato do PT à prefeitura do Rio de Janeiro no segundo semestre. Ele assume a pasta em substituição a Matilde Ribeiro, que pediu demissão no início do mês depois das acusações de abuso nos gastos com cartão corporativo. As denúncias geraram uma CPI mista, criada na segunda-feira após um acordo entre governo e oposição e que vai investigar os gastos dos últimos dez anos, englobando os governos Fernando Henrique e Lula.


O ministério vinha sendo ocupado interinamente pelo secretário-adjunto Martvs das Chagas. Ele também estava cotado para o posto, assim como a cantora Leci Brandão.
Entidades do movimento negro querem ministro com perfil articulador
Representantes de movimentos sociais negros avaliavam mais cedo que, mais que um nome específico, o Ministério da Igualdade Racial precisa de ampliação da estrutura e mais articulação com a sociedade.


O nome da cantora Leci Brandão foi apontado pelo fundador e conselheiro da ONG Educação e Cidadania de Afro-Descendentes e Carentes (Educafro), frei David, como a "indicação da comunidade negra" para substituir a ex-ministra. No entanto, a indicação não é consensual, segundo representantes do Movimento Negro Unificado (MNU) e da União de Negros pela Igualdade (Unegro).


- O nome da Leci é um dos nomes apontados, mas não é um consenso. Temos vários quadros dentro do movimento negro, dentro das várias vertentes, dos vários segmentos - afirmou Marta Almeida, coordenadora do MNU em Pernambuco.


O secretário de Promoção da Igualdade da Bahia, Luiz Alberto Silva, e o secretário-executivo do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap), Ivanir dos Santos, foram apontados como sugestões por Marta. De acordo com Julião Vieira, integrante da executiva nacional da Unegro, Leci Brandão "seria um bom nome", mas, segundo ele, a lista de possíveis indicações é mais ampla, com "seis, oito ou dez nomes" e está em discussão nos bastidores.


- Quem vier tem que ter um perfil de maior amplitude e interlocução com o movimento negro brasileiro e o movimento social, com a academia (o setor acadêmico), com o movimento sindical - avaliou Vieira.


A representante do MNU não descarta a indicação de um branco para o Ministério.
- Seria coerente, dependendo do perfil do indicado, é uma secretaria de promoção da igualdade racial, pode ser um ministro judeu, indígena. Tem que ter o perfil: não-racista, não-homofóbico e com sensibilidade para os movimentos sociais e para a questão racial - pondera.
Já a fundadora da organização não-governamental (ONG) Geledés - Instituto da Mulher Negra, Sueli Carneiro, defendeu que "não é responsabilidade da comunidade negra" indicar nomes para o ministério.


- A secretaria é uma proposta do governo, que emerge dos compromissos assumidos pelo PT e sua base aliada com sua militância política; então, a definição desse nome é de responsabilidade e de competência do PT, da sua militância e das forças políticas que estão na base aliada desse governo. É esse segmento que tem que sugerir esse nome - avaliou.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Pesos e medidas

Não, não há racismo na demissão de uma gestora pública em nível de ministra sobre a qual pairem suspeitas de uso indevido de dinheiro público ou erro administrativo — tratando-se ou não de pessoa negra. Há, no entanto, racismo e discriminação no tratamento que foi dispensado à ex-ministra Matilde Ribeiro dentro e fora do governo.

A ministra não é chamada pelo presidente da República, de quem seria pessoa de confiança, para se explicar. É sabatinada com direito a muitos “pitos” e aconselhamento para se demitir por outros três ministros supostamente equivalentes a ela. Evidencia-se aí o que parece ser o caráter simbólico do título de ministra. Demitida, é exposta numa patética coletiva de imprensa, jogada aos leões, sem a presença de nenhuma das figuras de expressão do governo ou de seu partido para emprestar-lhe “solidariedade” como houve em outros casos similares.

Na mídia, proliferam charges que extrapolaram, em muito, o objeto central das irregularidades de que era acusada. De forma grotesca, deram plena vazão aos estereótipos. As ilustrações de sua figura nos órgãos de imprensa serviram-se de todos os clichês correntes em relação às pessoas negras. Em uma delas, ela é representada sambando com batas africanas e tranças rastafári, como se esses traços de identidade falassem por si e, portanto, explicassem os erros que lhe custaram o cargo.

Foucault já explicou como se dá esse processo que ele nomeou de “dobrar o delito” acoplando-lhe “uma série de outras coisas que não são o delito mesmo, mas uma série de comportamentos, de maneiras de ser que (...) são apresentadas como a causa, a origem, a motivação, o ponto de partida do delito”. O resultado dessa operação é que a falha cometida se torna a marca, o sinal de uma suposta imperfeição congênita de uma pessoa ou, mais ainda, de seu grupo social.

É como se estivesse inscrito em sua natureza, devendo, por isso, ser objeto de humilhação pública para servir de alerta aos que se esquecem dessa ausência “natural” de qualidade e os elevam a posições para as quais não estariam talhados. Presta-se também como ameaça aos outros, do mesmo grupo inferiorizado, que porventura ousem desejar atingir os mesmos postos. São formas de punição preventivas e educativas em que a estigmatização e a humilhação funcionam para reafirmar a incapacidade e despreparo para assumir função diretiva. Em outras palavras, a necessidade de controle social e tutela desses segmentos sociais.

Adicional e imediatamente promoveu-se a confusão entre a pessoa da ministra e sua pasta. Passaram a pedir não apenas a sua cabeça mas também a extinção do órgão que dirigia. Alguém imagina pedir-se a extinção de qualquer outro ministério ou secretaria especial porque seu titular cometeu um desvio de conduta?

Veiculou-se na imprensa que o presidente Lula estaria “particularmente aborrecido porque lutou muito pela criação da Secretaria da Igualdade Racial, antiga reivindicação do movimento negro, e foi criticado pela decisão de criar mais uma pasta. Para o presidente a atitude de Matilde Ribeiro dá agora argumentos aos adversários para quem a secretaria não tem função”.

Ora presidente, a disfunção da então ministra não pode confundir-se com a função da secretaria como desejam os adversários. A contaminação dos atos da ministra sobre a pasta que estava sob seu comando pode ser justificativa para ceder às pressões daqueles que, dentro e fora do governo, operam para a desestabilização daquele órgão; aqueles que propagam que não somos racistas no Brasil e, portanto, negam as mazelas sociais que o racismo produz e conseqüentemente esvaziam de sentido essa secretaria.

Enquanto Matilde Ribeiro é convidada a se demitir, outros se tornam ministros ou assumem mandatos parlamentares com suspeitas muito graves. Portanto, há discriminação quando as regras não se aplicam igualmente a todos, ou melhor, no fato de que alguns devem ser exemplarmente punidos e outros não. Há racismo na associação entre a negritude da ministra e seus atos. Há racismo no aproveitamento político de falha pessoal de uma gestora pública para a desqualificação da pasta que ela dirigia. Há racismo na utilização das irregularidades cometidas para negar a existência do problema racial e da necessidade de que o seu combate seja objeto de políticas públicas.

A agenda de combate ao racismo e promoção da igualdade racial permanece como compromisso do governo no plano nacional e internacional, gostem ou não gostem os detratores. O presidente Lula da Silva precisa estar atento para que o caso de Matilde Ribeiro não seja usado, indevidamente, como o álibi perfeito para o abandono e negação desses compromissos. A crise na Seppir é também oportunidade de dotá-la das condições políticas e materiais necessárias para estar à altura desses compromissos — sobretudo o de transversalizar o tema da promoção da igualdade racial nas diversas áreas da administração pública.

Sueli Carneiro, doutora em filosofia da educação, é diretora do Geledés — Instituto da Mulher Negra
Fonte: Correio Braziliense

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

National Geográphic traz tudo sobre os Faraós Negros

A revista National Geograhic Brasil, do mês de fevereiro, traz uma matéria excelente sobre os Faraós negros, não só do Egito, mas também da Núbia, atual Sudão. São muitos os pontos altos do texto: o primeiro deles, o caráter dialógico da organização e apresentação dos resultados de pesquisas de arqueólogos e historiadores sobre a existência e modo de governar dos Faraós negros, oriundos da Núbia. Trata-se de tema complexo, desde as postulações dos egiptólogos afrocêntricos que reivindicam a negrura de todos os antigos egípcios, de Tutankhamon a Cleópatra, aos historiadores negligentes em relação à civilização construída pelos núbios e expoentes de uma “ignorância absoluta do passado da África”, ou mesmo aos racistas que mesmo diante de indícios irrefutáveis, encontrados por eles mesmos, não admitiam que negros pudessem ter construído uma civilização.

Destaca-se também a atualização da matéria por meio de uma perspectiva da História que aproxima o passado do presente, ao mesmo tempo que informa de maneira embasada e crítica. Leia-se o trecho abaixo: “Atualmente as pirâmides do Sudão – mais numerosas que as do Egito – são espetáculos assombrosos no deserto da Núbia. É possível perambular por elas sem nenhum temor, mesmo se estivermos desacompanhados, como se a região nada tivesse a ver com o genocídio no país, a crise dos refugiados em Darfur ou as conseqüências da guerra civil no sul. Enquanto cerca de mil quilômetros ao norte, no Cairo ou em Lúxor, multidões de turistas curiosos desembarcam de um ônibus após outro, espremendo-se para ver e apreciar as maravilhas egípcias, as pouco visitadas pirâmides sudanesas de El Kurru, Nuri e Meroé se erguem serenamente em meio a uma paisagem árida e vazia que mal sugere que ali teve lugar próspera cultura da antiga Núbia. Agora, contudo, nosso vago entendimento dessa civilização está mais uma vez ameaçado de mergulhar na obscuridade.

O governo sudanês constrói uma usina hidrelétrica no rio Nilo, cerca de mil quilômetros acima da barragem de Assua, erguida pelo Egito nos anos 1960 e que transformou grande parte da Baixa Núbia no leito do lago Nasser (chamado de lago Núbia, no Sudão). Até 2009, ficará pronta a enorme barragem de Merowe e um lago com 170 quilômetros de comprimento irá inundar as terras no em torno da Quarta Catarata – assim como milhares de sítios arqueológicos ainda inexplorados. Nos últimos nove anos, os arqueólogos acorreram desesperados à região, realizando escavações a toque de caixa antes que outro repositório de história Núbia tenha o mesmo destino de Atlântida” (p.35).


Fonte: Blog da Cidinha
Visite o sítio da National Geographic Brasil: ngbrasil.com.br

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O nome dela é Ayo

Ela já é uma das cantoras mais badaladas na Europa e seu nome, Ayo, significa “prazer”, em Yorubá. Nascida na Alemanha, fruto da união de pai nigeriano e mãe romena, Ayo foi ainda pequena para a Nigéria e de lá mudou-se para Londres, depois Paris e Nova Iorque. Quando criança, ouvia de Pink Floyd a Felá Kuti, de Soul Children a Bob Marley, além de Bunny Waiter e o Príncipe Sunny Adé, “o herói da Juju Music”.

Nos Estados Unidos produziu seu primeiro álbum. Em Paris, menos de dois anos depois, notícias sobre o seu talento começaram a circular e Ayo já se apresentava com seu violão, abrindo o concerto de Omar, o “soul brother” britânico, ou improvisando com Cody Chestnutt no palco do Elysée-Montmartre. Sonhando em fazer o mesmo com Stevie Wonder. O disco que chega agora às lojas brasileiras foi gravado em apenas cinco dias no esquema “todos ao mesmo tempo e ao vivo” no estúdio. Já estava pronto na cabeça de Ayo. O resultado é uma coleção de canções agridoces, com 12 faixas que retratam as muitas experiências e vivências de Ayo.