terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Luiz Gonzaga ao vivo – volta pra curtir

Que Luiz Gonzaga foi genial, isso todo mundo já sabe. Ele tinha a voz forte, as composições imortais, a sanfona característica e um talento nato para incorporar o caboclo nordestino e contar causos e anedotas. Doze anos depois de sua morte, constata-se que ele continua imbatível no gênero que ajudou a fixar no imaginário coletivo do brasileiro: o baião e suas variações. É o que prova o CD inédito Volta Pra Curtir, retirado de um show no Teatro Tereza Rachel, no Rio, em 1972, quando Caetano e Gil voltaram do exílio e queriam mostrar à juventude intelectual da Zona Sul carioca a importância do Rei do Baião. Produzido por Jorge Salomão (com roteiro dele em parceria com José Carlos Capinam), o show que agora virou CD apenas frisa a genialidade do intérprete e compositor, com direito a uma banda regional de primeira, que contou com o então jovem Dominguinhos no acordeom, que acabava de ser rebatizado (deixara há pouco o apelido de Neném).

O falatório desfiado por Gonzagão ao longo do disco pode até incomodar a quem só queira dançar ao som de suas músicas, mas não poderia ter ficado de fora. Seria uma heresia, afinal são em seus discursos que ele revela sua graça, sua ingenuidade e seu carisma inigualáveis. O repertório traz seus maiores clássicos - todos, atemporais - como Asa Branca, Boiadeiro, Lorota Boa, Assum Preto, Respeita Januário, No Meu Pé de Serra, Estrada de Canindé, Juazeiro, Derramaro o Gai, Qui Nem Jiló e tantas outras. Entre as menos conhecidas, destacam-se as brejeiras e melancólicas Ana Rosa (Humberto Teixeira) e Hora do Adeus (Onildo Almeida/ Lula Queiroga) e duas homenagens ao Rio de Janeiro: Adeus, Rio (Zé Dantas/ Luiz Gonzaga) e Aquilo Bom (Garotas do Leblon) (Luiz Gonzaga/ Severino Ramos). A nova geração do forró pé-de-serra tem que acender uma vela por noite pra São Luiz Gonzaga. Reverência é o mínimo que se pode ter a um dos dez nomes mais importantes da MPB de todos os tempos.

Faixas

1 Boiadeiro
(Klecius Caldas - Armando Cavalcante)
• Cigarro de paia (Armando cavalcante, Klecius Caldas)

2 Moda da mula preta
(Raul Torres)
• Lorota boa (Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira)

3 Siri jogando bola
(Luiz Gonzaga - Zé Dantas)
• Macapá (Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira)

4 Qui nem giló
(Luiz Gonzaga - Humberto Teixeira)
• Oiá eu aqui de novo (Antonio Barros)

5 Asa branca
(Luiz Gonzaga - Humberto Teixeira)
• A volta da asa branca (Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira)

6 Assum preto
(Luiz Gonzaga - Humberto Teixeira)
• Ana Rosa (Humberto Teixeira)

7 Hora do adeus
(Luiz Queiroga - Onildo Ameida)

8 Estrada de Canindé
(Luiz Gonzaga - Humberto Teixeira)
• Respeita Januário (Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira)

9 Numa sala de reboco
(José Marcolino - Luiz Gonzaga)
• O cheiro da Carolina (Amorim Roxo, Zé Gonzaga)
• O xote das meninas (Luiz Gonzaga, Zé Dantas)

10 Adeus, Rio
(Luiz Gonzaga - Zé Dantas)
• Aquilo bom (Garotas do Leblon) (Luiz Gonzaga, Severino Ramos)

11 No meu pé de serra
(Luiz Gonzaga - Humberto Teixeira)
• Baião (Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira)

12 Pau de arara
(Guio de Moraes - Luiz Gonzaga)
• Juazeiro (Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira)

13 Derramaro o gai
(Luiz Gonzaga - Zé Dantas)
• Imbalança (Luiz Gonzaga, Zé Dantas)

14 A feira de Caruaru
(Onildo Ameida)

15 Olha a pisada
(Luiz Gonzaga - Zé Dantas)
• Boiadeiro (Armando Cavalcante, Klecius Caldas)

Fonte: http://cliquemusic.uol.com.br/
Texto: Rodrigo Faour

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

O Paulinho da Viola de Meu Tempo é Hoje


Você escuta um estalo. Algo quebrou dentro do peito. Na tela grande, um close na boca gigantesca. A voz é conhecida, a música ainda mais. Marisa Monte entoa "Carinhoso", de Pixinguinha. Sim, é aquela, "meu coração/não sei por que...". É batida, já tocou milhares de vezes, mas não dá para evitar o nó na garganta e a taquicardia. A câmera só mostra a boca de Marisa durante quase toda a canção. Os olhos marejam. A voz de Marisa e o violão de Paulinho da Viola. Só.

E isso acontece lá pelo meio do filme. O coração já tinha ameaçado deixar o peito algumas vezes, mas você não está preparado. Nunca está. Meu Tempo é Hoje, documentário sobre a carreira e o cotidiano de Paulinho da Viola. É a intimidade de um astro tímido, as idiossincrasias de um gênio. É um dos mais belos filmes brasileiros já vistos e certamente o melhor filme de música produzido no Brasil.

Dirigido magistralmente por Izabel Jaguaribe – com roteiro e entrevistas de Zuenir Ventura – Meu Tempo é Hoje é poesia a cada polegada da película. Revela manias, joga sinuca, constrói alguma coisa em sua marcenaria, compra um livro raro. Coisas simples, prosaicas, mas que se transformam em poesia nas mãos de um homem que só sabe fazer bonito.

Paulinho atravessa a rua e entra em uma livraria. Lá, contente, recebe do livreiro o encomendado: o título do livro, "Saudade Brasileira". Paulinho se queixa: ele não sente saudade. Saudade e os efeitos do tempo são assuntos recorrentes no filme – assim como na obra musical de seu protagonista.

As teorias de Paulinho reinventam o tempo. Ele não sente saudades porque não vive no passado, mas sim o passado vive nele. "Meu tempo é hoje, vivo o agora", insiste Paulinho o tempo todo. Antes de tudo, é uma ode ao momento presente, à capacidade e à vontade que se deve ter em aprender a moldar, utilizar, viver o dia que se apresenta. Mas como seu chorinho, o filme de Paulinho não é melancólico. Passeia pela tristeza, pela alegria. É o mesmo homem que compôs "Sinal Fechado" e "Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida".

A leveza e a suave presença de Paulinho nos levam a um passeio pelo Rio, por histórias do samba, por telas maravilhosas de nossa música. Desse modo, transitamos da Barra da Tijuca ao bairro de Oswaldo Cruz. Passamos, de uma sessão refinada entre Marisa Monte e Raphael Rabello, para uma tarde rasgada, em Xerém, com Zeca Pagodinho, passando por uma peixada com samba com a Velha Guarda da Portela.

Os momentos, inclusive, que Paulinho passa com a Velha Guarda da Portela estão entre os mais emocionantes. Gênios da história da música popular brasileira, como Monarco, Argemiro do Patrocínio, Jair do Cavaquinho, entre outros, prestam reverência a Paulinho. Ele chega como um líder, como o escolhido. Mesmo sendo muito mais jovem, Paulinho é tratado como mestre entre os mestres. Quando cantam juntos, é de arrepiar. Monarco, inclusive, tem algumas das tiradas mais divertidas do filme, como quando explica que o samba afastou o amor da sua vida ("trabalhava na feira, depois ia beber e tocar, chegava em casa todos os dias depois das dez. Ela não aguentou") e da falta que faz a mulher no batuque ("samba sem mulher não tem graça. Vira só um bando de negão cantando").

Passam ainda pela tela, Sérgio Cabral, Marina Lima, Elton Medeiros, entre outros. Elton Medeiros faz milagres com uma caixinha de fósforo. Toca muito mais do que muitas bandas completas juntas. Meu Tempo é Hoje também relembra, em imagens preciosas, Pixinguinha, Cartola, Noel Rosa e Jacob do Bandolim.

A notória timidez de Paulinho é pouco notada. À vontade, ele nos apresenta a seus amigos de sinuca, a sua família. Fala de seus carros antigos que, ele mesmo, há de reformar. A pequena marcenaria é o xodó. A intimidade é tanta, que em alguns momentos você esquece que está no cinema e chega a se sentir na sala de estar de Paulinho. Você precisa se conter para não levantar a voz e fazer algum pergunta pra ele. É como se ele estivesse na sua frente. E está. Um exemplo vivo disso acontece quando, no aniversário de Paulinho, mulher e filhos estão sentados na sala, revelando manias esquisitas do homem. Como a vontade inesgotável de consertar tudo que encontra pela frente. É o gênio com jeito de homem comum.

A direção primorosa de Izabel comove. Ela capta as emoções instantâneas, os planos mais profundos. Mostra as cores do samba, as cores do Rio de Janeiro. O azul da Portela, o terno branco em silenciosa contraposição. Não há espaços vazios no filme.

"Só no cinema", como diz Zeca Pagodinho durante um samba na sua casa, em Xerém. Só no cinema. Cinema. Pelas mãos geniais de Paulinho da Viola, pela suavidade de seu ser, pela música espetacular, pela câmera de Izabel, Meu Tempo é Hoje é cinema, como não se vê há tempos. É cinema de verdade. Te faz sentir saudades, mesmo que Paulinho da Viola não aprove isso.
O melhor filme de música já feito em terras brasileiras.

Fonte: Laboratório Pop/ texto: Alexandre Petillo

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Juarês de Mira: negro spiritual e folk songs



Cantor lirico (baixo) residente na cidade de Curitiba, Paraná, Juarês de Mira desenvolve desde 2001 projeto de pesquisa e apresentação em recitais e concertos de Negro Spirituals e canções inglesas, escocesas, irlandesas, galesas, norte-americanas e brasileiras. Neste projeto, conta com a parceria de músicos, com o quais formou duos e trios de grande afinidade musical.

Membro do grupo EnCanto Negro, Juarês de Lira é natural de Tomazina - Paraná, foi cantor Lírico do Teatro Guaira, com o qual participou de varias montagens de óperas como La Bohème, Carmen, Il Rigolleto... concertos, Nona Siinfonia, Carmina burana, Requiem (Verdi/Mozart), sob a regência de renomados maestros.

Desde 2001 desenvolve trabalho de técnica vocal e corporal utilizando o método Pilates, com orientação do Tenor Ivo Lessa. Participou como solista da Homenagem à Wolf Schaia, da serie Recitais Líricos da Primavera, A Paixão de Chopin, Os Homens Cantam Todas as Mulheres, entre outros de igual importância.

Membro da Academia de Cultura de Curitiba e do Circulo de Estudos Bandeirantes, foi homeageado em 2003 pela Assembléia Legislativa do Paraná em função dos relevantes trabalhos realizados na área cultural.

"Tenho de dedicado à música clássica americana, canções folclóricas e canções eruditas brasileiras, as quais eu estudo e apresento em concertos e recitais. Eu creio que a música clássica é muito importante e tem canções belíssimas. Apresento arranjos ricos tais como os de Burleigh, Rosamond Johnson, Roland Hayes, Hall Johnson, Lawrence Brown, Stephen Foster, Cole Porter, Aaron Copland .... incluo também compositores eruditos como Villa-Lobos, Francisco Mignone, Lorenzo Fernandez, Waldemar Henrique".

Juarês de Mira tem excelente trabalho registrado em CD, repertório que pode ser ouvido através de http://profile.myspace.com/ind ou http://profile.myspace.com/index.cfm?
Vale a pena acessar também o seguinte endereço e degustar informações primorosas produzidas por Juarês de Mira: http://www.negrospirituals.redeesperanto.net/

força da cultura Zulu: Kholwa Brothers apresenta espetáculo em Sampa

O grupo de dança e canto a capela da África do Sul, Kholwa Brothers, responsável pela trilha sonora de Milágrimas, faz dois shows no SESC Vila Mariana, para mostrar a força da mais pura cultura do povo zulu.

Os Kholwa Brothers, grupo vocal sul-africano que em 2005 participou da trilha sonora do espetáculo Milágrimas dirigido por Ivaldo Bertazzo, estão de volta aos palcos da cidade de São Paulo nos dias 25 de janeiro no Parque da Independência, no Museu do Ipiranga, e dia 30 de janeiro no teatro do SESC Vila Mariana. Dessa vez, o grupo se apresenta somente com o que tem de mais forte: o canto a capella, sem a participação de nenhum outro instrumentista brasileiro.

O grupo de canto e dança tradicional de coro a capella, os Kholwa Brothers, formado em Durban em 1990 (inicialmente com nove membros sob a liderança de Derrick Mlambo) se apresentará com quatro integrantes das vozes soprano, alto, tenor e baixo, cantando as músicas tradicionais de sua terra, a província Kwazulu Natal, no norte da África do Sul, sem qualquer acompanhamento instrumental além da percussão produzida no próprio corpo.

Com Mandela - A palavra Kholwa, em Zulu, significa “um crente”. Os Kholwa Brothers já participaram do SomkeFestival, o primeiro encontro do presidente Nelson Mandela e a população após sua libertação da prisão. O grupo também já participou de diversos festivais internacionais como os Splashy Fen Festival, Standard Bank Jazz Festival, Festival Africano Renaissance, United Nations Conferência Mundial Contra o Racismo, o Festival Internacional de Escritores e Compositores, além do BRAVO - CHINA - ÁFRICA DO SUL.

No Projeto internacional chamado The Lion Collection, a convite do deputado Rob Sayer, compuseram uma canção para as crianças do mundo chamada “Shananana”.
Em 2005, sob a direção musical de Benjamim Taubkin e Arthur Nestrovski, participaram da trilha sonora do Milágrimas.

Origem e tradição: Os Kholwa Brothers, fiéis à origem do nome do grupo, acreditam na força expressiva da música e da dança tradicional. Para o povo Zulu, música e dança são formas de celebrar ou maneiras de mostrar felicidade quando a pessoas estão juntas. Segundo o líder Derrick Mlambo, o grupo pretende com a sua performance restaurar a paz, a humanidade e a união entre as pessoas do continente africano e do mundo.

A arte do grupo é representada pela música tradicional INGOMA, com doze gêneros diferentes. E tradicional aqui deve ser entendido como o modo de vida encontrado no passado na tribo Zulu da África do Sul, revelado por meio dos sentimentos, da alma, do sangue, e repaginados e recriado pela cultura urbana.

Gênero musical: A Isicathamiya é o gênero musical mais desenvolvido pelos Kholwa Brothers. Ele surgiu entre os homens de Kwazulu Natal que foram trabalhar na minas de ouro em Johanesburgo ainda no tempo do apartheid. A experiência exigiu um afastamento da família e para abrandar o sentimento da saudade, reinventaram os cantos e danças dos guerreiros zulus de forma a não incomodar os mineiros que preferiam descansar após a longa jornada de trabalho.
Substituíram então as vigorosas percussões corporais por gestos suaves como os movimentos de um gato. Os tons altos – antes reservados às mulheres - foram substituídos pela vozes masculinas. Essas novas experiências foram levadas de volta para a gente de Kwazulu Natal e conquistaram a África do Sul.

A delicadeza e sutileza, que serviram como forma de resistência e afirmação de uma nova identidade, brindarão os 454 anos da cidade de São Paulo com o espetáculo música e dança dos Kholwa Brothers.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Agência Afroétnica de Notícias é tema de estudo acadêmico

“Imprensa Negra Online: O racismo na pauta de todos os dias", artigo que analisa a experiência da Agência Afroétnica de Notícias (Afropress), dos professores Ilzer Matos e Lourdes Silva, foi um dos trabalhos apresentados e aprovados na V Jornada de Estudos Afro-Brasileiros (ANPUH-RS), realizada em setembro em Porto Alegre e no 5º Encontro Nacional dos Pesquisadores em Jornalismo, promovido, em novembro, pela Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), na Universidade Federal de Aracaju.
]
Os autores tem larga experiência acadêmica: Ilzver de Matos Oliveira é bolsista do Programa Internacional de Bolsa de Pós-Gradução da Fundação Ford e Mestrando em Direito Público pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), além de também fazer Mestrado-sanduíche no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. A Professora Lourdes Ana Pereira da Silva também é Bolsista da Fundação Ford e Mestranda em Ciências da Comunicação da UNISINOS, no Rio Grande do Sul, além de também fazer Mestrado na Universidade de Coimbra.

Nesse trabalho denominamos de imprensa negra online, as experiências alternativas de comunicação que, inseridas na rede mundial de computadores, buscam suplantar os objetivos primeiros da imprensa negra surgida no início Século XX, deixando de falar para dentro e passando a dialogar com todo o mundo, diante da percepção de que o problema do racismo não deve ser preocupação exclusiva do movimento negro, mas de todos indistintamente. Assim, essa pesquisa analisou uma dessas práticas alternativas, o AfroPress, para a partir dele, discutir as características e as propostas dessa imprensa negra online, o seu protagonismo nas discussões atuais sobre o negro e refletir sobre a legitimidade, a capacidade e a independência dessa atuação, afirmam na introdução do artigo.

Imprensa Negra - "O trabalho faz um histórico da Imprensa Negra desde o período do escravismo, passando pelo período pós abolição, até os dias de hoje. “No momento atual, novas experiências de imprensa negra emergem e trazem consigo uma nova discussão sobre o papel dessa imprensa no enfrentamento do racismo e suas formas de expressão. Esse novo debate reflete sobre até que ponto a imprensa negra atual continua restrita ao público negro, ensimesmada, e em que medida isso pode significar um entrave ao alcance dos seus objetivos principais. Questiona-se, ainda, se não estaria na hora de construir um modelo de jornalismo negro que não tivesse por foco, tão somente, e exclusivamente, outros negros, mas que pudesse ser um veículo de conscientização de todos os cidadãos para o grave e persistente problema do racismo no Brasil. Um dos exemplos dessas novas experiências é o AfroPress”, afirmam.

Experiência nova - Os pesquisadores destacam a nova experiência de Imprensa Negra, da qual citam Afropress como exemplo, de “falar com e para o mundo”. “Anotamos que a proposta da AfroPress, que tem por foco um jornalismo voltado para a temática racial e étnica, a partir do uso da Internet, e pelo aproveitamento da experiência e do idealismo dos seus membros no trato da temática racial, por serem militantes e voluntários de movimentos sociais, e da sua formação profissional, já que são jornalistas ou profissionais de áreas afins, consegue realizar um trabalho que congrega a legitimidade, a capacidade e a independência.”

Por fim, os pesquisadores destacam que a experiência “tem o claro objetivo de servir de modelo e abrir portas para a sua reprodução”, mas alertam para os riscos de que, pela falta de alguns elementos que são analisados no trabalho, ou sejam, legitimidade, capacidade e independência, acabe-se caindo nos perigos da cooptação, especialmente da grande imprensa, o que tornaria essa tentaitva de um jornalismo emancipatório em mais uma experiência de dominação e regulação, desvirtundo-a da trilha daquilo que se deseja construir alternativamente a partir da idéia de que “um outro mundo é possível”.

Foto: Dojival Vieira/editor da Afropress
Fonte: Afropress

Pierre Lambert morre em Paris aos 87

Um dos ícones do trotskismo francês, Pierre Boussel, 87, mais conhecido pelo codinome Pierre Lambert, morreu em Paris, vítima de uma doença não revelada. Ele era tido como um dos ideólogos da esquerda operária na segunda metade do século passado.

"O camarada Pierre Lambert faleceu depois de ter lutado até as últimas forças contra a doença", anunciou em comunicado a seção francesa da 6ª Internacional (trotskista). "Até o fim, ele participou da luta pela emancipação operária", diz o texto.

Lambert foi candidato à presidência da República, em 1988. Ele obteve apenas 0,38% dos votos, sua maior derrota política.Em 2001, revelou detalhes sobre o passado trostkista do então primeiro-ministro Lionel Jospin. "Fui eu quem autorizou sua entrada no partido socialista", disse Lambert.

Matilde representa Brasil em reunião preparatória do 3º Festival Mundial de Artes Negras, no Senegal

A ministra Matilde Ribeiro foi uma das autoridades internacionais convidadas para a reunião, do 3º Festival Mundial de Artes Negras em Dacar, Senegal.

O Brasil é convidado de honra da terceira edição do festival, programada para o período de 1º a 21 de dezembro de 2009.
A primeira edição do Fesmam ocorreu em 1966 por iniciativa do então presidente, o poeta senegalês Leopoldo Sedar Senghor. Participaram 37 países, entre eles o Brasil que exibiu a produção em artes plásticas, cinema, samba, capoeira, gastronomia, música e tradição do candomblé.

Conforme registro da edição nº 2 da Revista AfroÀsia, editada pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA (Universidade Federal da Bahia), “o primeiro grupo brasileiro a apresentar-se foi o de "capoeira", de Mestre Pastinha, com seus ritmos primitivos de Angola, com um repertório de canções onde palavras africanas e portuguesas se misturam de maneira completa, acompanhada por instrumentos herdados da África Negra.

A apresentação prosseguiu com os ritmos típicos dos "sambas- de-roda", dos "lundus", dos "sambas-de partido alto" e dos "beira-mar", entoados por Clementina de Jesus. Exibiu-se também Ataulfo Alves com seu conjunto de "Pastoras", acompanhadas por três extraordinários "passistas" da Escola de Samba de Mangueira. Finalmente, a voz de Elizete Cardoso popularizou o samba brasileiro em alguns períodos recentes de sua evolução. A Embaixada do Brasil em Dacar ofereceu às delegações presentes um jantar preparado pela conhecida "ialorixá" Olga do Alaketo, que, com suas vestes vistosas de "baiana", despertou a atenção popular na cidade de Dacar”.

Quadro do pintor baiano Rubem Valentim, exposto no 1º Fesmam (1966)
Fonte: Ascom-Seppir

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Sobre a "recriação" da América

Já lhe ocorreu de se perguntar o que Napoleão teria pensado das periferias?

Como Talleyrand teria administrado a crise do Paquistão? Provavelmente não. O passado está morto e enterrado. Mas, para contrariar está noção, basta aos franceses atravessarem o Atlântico. Aqui, o passado está presente. Os americanos estão questionando o seu passado. Como fariam os Pais fundadores hoje? "Será que eles buscariam disseminar a democracia pelo mundo afora"? "Será que eles apregoariam o criacionismo"? "Se mostrariam favoráveis à pena de morte"?

Há alguns anos, os americanos vêm sendo tomados de fervor pelos seus fundadores. "As pessoas acabam chegando à conclusão de que, se existe alguém que deveria saber de que maneira os Estados Unidos deveriam funcionar, só poderia ser um deles", explica o historiador conservador Richard Brookhiser, que acaba de publicar um livro intitulado "What Would The Founders Do?" ("O que fariam os fundadores?"), no qual ele tenta responder às perguntas acima mencionadas e a outras perfeitamente incongruentes. Nos últimos meses, foram publicadas várias dezenas de livros a respeito dos heróis da Independência. Em sua maioria, eles são bem-sucedidos nas livrarias. Neles podem ser encontrados os questionamentos do final do século 18 e a sua repercussão no debate atual: a religião e o Estado, o poder executivo e seus limites. As primeiras leis de exceção datam de 1798, duzentos anos antes do Patriot Act. Na época, os inimigos estrangeiros eram os franceses (o "freedom fighter" marquês de La Fayette já havia retornado a Paris e ainda não havia voltado para a sua turnê triunfal de 1824).

Até recentemente, os fundadores não passavam de estátuas gravadas no mármore. Nós os redescobrimos como seres mortais, vingativos, ambiciosos. Durante a campanha para a eleição de 1800, Jefferson financiava por baixo dos panos panfletos caluniosos contra os seus adversários. Até mesmo a "ovelha negra" Aaron Burr foi objeto de duas biografias. Burr foi um vice-presidente de choque. Em 1804, ele assassinou o antigo ministro das finanças, Alexander Hamilton, num duelo.

Aquela foi uma época propícia para as intrigas e para a fundação dos partidos. Os comentaristas de hoje estão verdes de inveja. Como fizeram os fundadores, numa época em que a polarização era tão marcada, para conseguirem implantar instituições inéditas, ao passo que atualmente o 110º Congresso eleito nem sequer consegue votar a reforma do sistema de seguro de saúde?

Alexander Hamilton, um gênio das finanças, era o "fundador esquecido". Os anos Bush o reabilitaram. Enquanto [Thomas] Jefferson sonhava com a agricultura, Hamilton previu o advento de uma potência industrial e bancária, com um governo forte. Ele tornou-se para a direita aquilo que Jefferson é para os democratas: "O pai da América moderna". Os "hamiltonianos" - entre os quais David Brooks, do "New York Times" - são favoráveis às leis do mercado, mas eles consideram que o governo deve fornecer aos indivíduos os meios para nele se integrarem. São os novos republicanos.

Num país que se mostra tão apaixonado por tudo o que é imediato, este retorno ao passado revela ser bastante preocupante: o que vem a ser ao certo este questionamento repentino? Será um sinal de declínio? De envelhecimento? Talvez seja, sobretudo, um efeito da efervescência atual. Abalados pelos anos Bush, os americanos estão à procura de respostas, da mesma forma que eles andam procurando a si mesmos. Eles estão retornando às origens, assim como costumam fazer aqueles que não sabem mais ao certo quem eles são. Chegou a hora da recriação.

O "revival" dos Pais fundadores não escapou da atual campanha eleitoral. O que acontece quando alguém liga a sua televisão em Des Moines, no Iowa? Eis Mike Huckabee, o populista batista (e baixista), que afirma que os fundadores eram "pro-life", ou seja, contra o aborto. Não será isso que Jefferson "quis dizer", indaga canhestramente o pastor, "quando ele escreveu que 'todos os homens foram criados iguais'"? Os conservadores estão tentando ancorar a sua religião na Fundação. Não sem sucesso: 55% dos americanos acreditam que a Constituição de 1787 instaurou uma "nação cristã". O que é inexato. Deus não figura no texto. "Os fundadores teriam considerado a religiosidade da nossa vida política moderna absolutamente odiosa", afirmou no final de dezembro de 2007 o cronista David Ignatius.

Em graus diversos, os candidatos estão propondo mudar o "sistema". O republicano Ron Paul, que se tornou aos 71 anos a coqueluche dos jovens radicais, quer abolir o Federal Reserve( o banco central americano). Um debate que lembra tanto 1790! Jefferson era contra a criação do banco central. Hamilton era a favor. O debate, segundo dizem, teria chegado a uma conclusão durante um jantar na casa de Jefferson. Os virginianos aceitaram o banco e obtiveram como contrapartida a sede do governo (e foi assim que a capital acabou sendo instalada nas margens do rio Potomac).

Para o historiador Joseph Ellis, autor do livro recém publicado "American Creation", os americanos têm dificuldades para se conformarem em não obter resposta alguma dos seus heróis. Eles não gostam da idéia de que "o passado seja um mundo perdido para sempre". Ele mesmo foi entrevistado em dezembro pelo "Washington Post": "O que George Washington teria pensado do Iraque?". Ellis optou pela honestidade: "Ele nem sequer teria encontrado o Iraque num mapa".

E em relação às primárias? O que os fundadores teriam pensado a respeito? O que teriam dito desta mistura de promessas revolucionárias, de pesquisas de opinião em todas as direções, de guitarra elétrica e de patrocinadores distribuindo milhões? "Eles teriam considerado qualquer um daqueles que buscam sucesso em nosso circo eleitoral contemporâneo como um palhaço indigno de ser eleito", afirma Joseph Ellis. Muitos são aqueles que apostariam o contrário. Debates, golpes baixos, excessos de exposição na mídia: para estes, os fundadores teriam simplesmente a-do-ra-do...

CONHEÇA OS NOMES CITADOS

Napoleão (1769 - 1821): Assumiu o poder na França com um golpe (conhecido como 18 Brumário) em 1799, encerrando o período revolucionário da Revolução Francesa

Talleyrand (1754 - 1838): Político e diplomata francês, ocupou altos cargos durante o governo de Napoleão e a restauração da monarquia dos Bourbons na França

La Fayette (1757 - 1834): Marquês francês que participou da Guerra de Independência dos EUA

Thomas Jefferson (1743 - 1826): Foi o terceiro presidente dos EUA (1801 - 1809). É considerado um estadista e um iluminista.

Aaron Burr (1756 - 1836): Militar e político, foi vice-presidente dos EUA durante o mandato de Thomas Jefferson

Alexander Hamilton (1755 (?) - 1804): Foi o primeiro Secretário do Tesouro dos Estados Unidos da América; considerado uma das principais influências na formação do capitalismo americano

George Washington (1732 - 1799): É conhecido com o "Pai dos Estados Unidos", foi o primeiro presidente do país (1789 - 1797)

Fonte: Le Monde. Texto: Corine Lesnes
Tradução: Jean-Yves de Neufville

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

História da colonização de África – Parte 1

Apesar de, segundo as descobertas mais recentes de fósseis de hominídeos, a África ser o “berço da humanidade”, donde a espécie Homo sapiens se espalhou pelo mundo, e de contar com uma das civilizações mais antigas do Planeta – o antigo Egito -, este continente foi desde a Antiguidade alvo de governantes de vários países, sobretudo os da Europa. As intempéries do passado e as disputas locais deixaram marcas que persistem até hoje no seio das populações de várias nações africanas.

A história da colonização de África encontra-se documentada desde que os fenícios começaram a estabelecer colônias na costa africana do Mediterrâneo, por volta do século X a.C.. Seguiram-se os gregos, entre os séculos século VI a.C. e século III a.C., os romanos no século II a.C., os vândalos, que tomaram algumas colônias romanas já no século V da nossa era, seguidos pelo império bizantino, no século seguinte, os árabes, no século VII e, finalmente, estados modernos da Europa, a partir do século XIV.

A colonização fenícia - A Fenícia foi um antigo reino cujo centro se situava na planície costeira do que é hoje o Líbano, no Mediterrâneo oriental. Esta civilização desenvolveu-se entre os séculos X e V a.C., estabelecendo colónias em todo o norte de África. Uma das colónias fenícias mais importantes desta região foi Cartago.

A colonização grega – Se deu por disputas por terras férteis na península grega levando-os a colonizar o Norte da áfrica, a Magna Grécia e a entrada do Mar Negro. As colônias instaladas mantinham intercâmbio cultural e forneciam alimentos para os peninsulares.

A colonização romana – No século II, com a expansão de Roma, pelo Norte da África, se teve dominado várias tribos Africanas e se transformaram em escravos ou se eram fortes transformavam em guerreiros para lutas e guerras principalmente lutas,batalhas e guerras com os outros povos vizinhos ao de Roma. Foi o primeiro povo estrangeiro a escravizar e transformar em guerreiros para lutas e guerras os povos Africanos. O Império de Roma dominou toda a África Mediterrânea, ou seja, a parte extrema do norte da África e que rodeia o Mar Mediterrâneo.

A colonização bizantina - Depois dos Vândalos do século V, vieram o Império Bizantino no século VI e dominaram o Egito e o que hoje é a parte oriental da Líbia
A colonização árabe - A colonização dos Árabes ocorreu durante os séculos VIII e IX e abrangeu todas as terras que são o actual Deserto do Saara e grande parte da África Ocidental e a zona costeira da África Oriental.

Omã – Durante o século XVIII o Omã estabeleceu várias colônias ultramarinas, dentre as quais estão o Baluchistão (atual Paquistão), os Comores, Moçambique, Madagascar, Tanzania (a ilha de Zanzibar virou Capital do Omã entre 1841 e 1890 e a cidade de Dar es Salaam foi fundada pelo sultão de Zanzibar), a costa da Somália alguns territórios na Índia. Porém, com o declínio do sultanato, tais colônias foram perdidas quando, em 1891 o sultanato vira protetorado britânico.

Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre

Kalunga, uma remanescente de quilombo no sertão de Goiás

Construída pela comunicação oral, a história do quilombo Kalunga ainda guarda segredos. Para entendê-la é preciso voltar no tempo, quando no Brasil não havia estradas, nem liberdade. “O meu avô era kalunga. Esse era kalunga mesmo, daqueles que vinha lá de cima, pra fugir dos patrão, não era?”, conta Dona Joana Torres, de 109 anos, moradora da comunidade Engenho II.

Eram meados de 1700 quando os Senhores Bartolomeu Bueno e João Leite da Silva iniciaram a colonização na região de Goiás (que foi sendo chamada de “minas dos Goyases” – nome de um povo indígena que vivia naquela região, onde havia muito ouro) provocando um processo de povoamento. As populações nativas entre outras, foram escravizadas, destruídas ou conseguiram fugir e procurar novo habitat.

Como precisava de mais mão de obra, os africanos foram levados para a província, diretamente dos portos de Santos, Salvador e/ou Rio de Janeiro. Eles eram obrigados a “esquecer” suas origens: língua pátria, religião, identidade. Com jornadas de horas debaixo de sol quente, ainda eram vítimas das torturas, do tronco, do chicote, entre outros. E onde havia escravidão, também havia várias formas de resistência. A mais forte delas era a fuga individual ou coletiva, quando formavam os quilombos - o termo é banto e quer dizer acampamento guerreiro na floresta.

E foi assim que surgiu o quilombo no sertão goiano, que abriga hoje, cerca de 4.500 pessoas, na zona rural dos municípios de Teresina de Goiás, Cavalcante e Monte Alegre. Com o tempo, se acostumaram e se ambientaram com o sertão goiano. Venceram as dificuldades do caminho e as condições precárias que o ambiente ofereciam, descobrindo ao mesmo tempo que poderiam utilizar os recursos ali disponíveis para a reconstrução de suas vidas. Chamaram este lugar de Kalunga, o que na língua banto também significa lugar sagrado, de proteção.

Desde o período em que começaram a habitar aquelas serras, pouca coisa mudou. Com os seus ancestrais adquiriram os conhecimentos necessários para a sobrevivência naquelas terras. Isso é notado no cultivo das roças e na preservação da natureza. Atualmente, 93% do território kalunga ainda continua intacto.

O carro, por exemplo, não serve no meio daquelas serras. São poucas as estradas que dão acesso ao território, geralmente localizadas nas áreas periféricas. Dentro do Kalunga mesmo, só a pé ou no lombo de mula, uma vez que o cavalo não é ideal para a vida e trabalho dos kalungueiros.
O jeito é encarar as serra e os vãos e seguir a caminhada. É assim que eles fazem para ir as roças localizadas próximas ou muito distantes das moradias. E é a pé que eles levam as ferramentas e trazem a produção de suas roças. É comum ver mulheres, homens e crianças de várias idades andando quilômetros carregando “na cacunda” sacas com ramas e raízes de mandioca, sacas de arroz e frutas que são encontradas no caminho.

Quando localizam uma boa faixa de terra para o cultivo, não se preocupam muito com a distância, pois sabem que é lá que poderão cultivar alimentos para o sustento das famílias. “Com o tempo fica perto, a gente precisa não precisa? Então.”, afirma Sr. Dermetrino Santos, de Vão de Almas.

E assim está sendo feito há quase 300 anos, as distâncias são vencidas pela necessidade de sobrevivência. O frio na época de inverno é enfrentado com fogo e aconchego humano, o abastecimento de água é fornecido pelos rios que banham a região. É preciso ter braços fortes para carregar o líquido vital em latões ou baldes de até 50 litros cada.

Este trabalho pode ser o responsável pela dignidade daquele povo. Gente simples e muito humilde, mas com o coração maior que até o próprio território do Kalunga. Seguem adiante lutando e socorrendo quem precisar no meio do caminho. Eles não se importam com as dificuldades, mas não toleram a pobreza, que beira a todo o momento a vida deles. Mas a todo instante, esta possibilidade é afastada pela força e vontade de trabalho do povo sertanejo que vive no nordeste de Goiás.

A luz é um artigo de luxo dentro do Kalunga, mas hoje algumas famílias já podem contar com este benefício. Muitos outros kalungueiros nunca viram uma lâmpada acesa, a não ser muito longe de seus lares. Mas mesmo assim, eles se viraram ao longo dos anos com a candeia de cera de abelha aratim, que extraem do cerrado, ou de óleo, que buscam na cidade.

Sem luz, não podem ter nenhum eletrodoméstico que facilite suas vidas. Mas eles seguem adiante, com ou sem luz, pois sabem que seus braços e pernas podem suprir esta carência. “Que isso, luz pra modi quê? Aqui, nós tem muita coisa, óia a roça, que bonita. Dorme logo que o dia anoitece e levanta com os galo”, conta dona Lió, moradora do povoado Ema e considerada a mãe do lugar.

Viver no kalunga é coisa para gente forte, de bom coração, trabalhadora, e acima de tudo, para aqueles que tem fé em Deus e no seu trabalho. Hoje, eles já estão ganhando espaço entre os governantes e é importante que outras pessoas também conheçam os kalunga, mas não como quem conhece algo “raro”, mas com o respeito que se merece. Porque quando o olhar é de respeito, a história agradece.

Fonte: Rota Brasil Oeste
Autores: Leonardo Boloni é jornalista e repórter-fotográfico formado pela Uniube – Universidade de Uberaba, Minas Gerais. Aline Cântia é jornalista, pós-graduada em Jornalismo e Práticas Contemporâneas pelo UNI-BH e mestranda em Estudos Literários pela UFMG.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Cesaria Évora: beleza africana em Café Atlântico

A diva dos pés descalços ... é como se apresenta nos palcos, em solidariedade aos «sem-teto» e às mulheres e crianças pobres de seu país.

Á morna, um gênero musical profundo em sentimentos e aparentado ao fado português,cantado em crioulo cabo-verdiano, ela adicionou toques sentimentais com sons acústicos de violão, cavaquinho, violino, acordeon e clarineta. Também várias vezes a ouvimos cantar fado, o qual foi, literalmente conquistado, por esta voz tropical.

O blues cabo-verdiano de Cesária Évora tem como tema a longa e amarga história de isolamento do seu país e do grande comércio de escravos, assim como da saudade e da emigração - o número de cabo-verdianos morando no exterior é maior do que a população total do país.

A voz de Cesária Évora, acompanhada de instrumentos que lhe dão um toque demelancolia, ressalta a emoção, que caracteriza a interpretação. Mesmo platéias que nãoentendem o idioma, interagem com emoção nas apresentações. Fez vários duetos comMarisa Monte. Em 2004 conquistou um prêmio Grammy de melhor álbum de world musiccontemporânea. Em 2007, o presidente francês Jacques Chirac distinguiu-a com a medalha da Legião de Honra de França.

A cantora é freqüentemente comparada a damas magistrais como Billie Holliday e Edith Piaff. Nascida em Mindelo, na Ilha de Cabo Verde, em um família muito pobre, ela começou a cantar ainda adolescente e não tardou a ser alçada à Rainha da Morna.

Somente em 1980 Cesária Évora gravou, em Paris, seu primeiro CD, em francês mesmo, La Diva Aux Pied Nus, o título pelo costume que ela tem de apresentar-se descalça. O prestígio de crítica e público foi consolidado com o lançamento de Miss Perfumado, em 1992.

Café Atlântico é uma de suas mais impecáveis obras. As canções são cantadas no idioma cabo-verdense um português quase ininteligível. Trata-se de uma sonoridade universal, absolutamente bela e tipicamente cesariana. Antone Escaderode é uma levada forrozeira à la Luiz Gonzaga, embora num padrão vem peculiar. Desilusão dum Amdjer é pura melancolia.

Uma das mais brilhantes performances de Café Atlântico é a linda É Doce Morrer no Mar, na qual se aliam Cesária Évora e Marisa Monte para encontrar novas belezas nesse clássico de Dorival Caimmy e Jorge Amado.

DISCOGRAFIA

1988 - La Diva aux pieds nus

1990 - Distino di Belita

1991 - Mal Azul4

1992 - Miss Perfumado

1994 - Sodade, Les Plus Belles Mornas De Cesaria

1995 - Cesaria

1997 - Cabo Verde

1998 - Best Of

1999 - Café Atlântico

2001 - São Vicente de Longe

2002 - Cesária Evora Anthology

2002 - The very Best Of

2002 - Live in Paris (DVD)

2003 - Voz D'amor

2003 - Club Sodade - Cesaria Evora by...

2006 - Rogamar

Ruanda in memorian: documentário de Samba Félix N´Diaye resgata experiência do genocídio

Entre abril e julho de 1994, o massacre dos Tutsi e dos Hutus moderados fez um milhão de vítimas. Pela iniciativa de Fest´Africa, uma dezena de autores africanos se encontraram para uma oficina em Kigali, quatro anos depois do acontecimento, procurando quebrar o silêncio dos intelectuais africanos a respeito do genocídio.

Em maio de 2000, durante o lançamento de uma série de obras inspiradas nessa experiência, escritores e artistas africanos e de outros lugares se reúnem em Ruanda. Ante os rastros do genocídio, Samba Félix N´Diaye encontra a justa medida, filmando o inominável mas deixando uma mensagem de esperança.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

51% das universidades estaduais adotam ações afirmativas

Mais da metade das universidades estaduais e 42% das federais adotam algum tipo de ação afirmativa no Brasil. Um levantamento feito pelo Laboratório de Políticas Públicas da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) mostra que 51 instituições públicas oferecem, por meio de cotas ou de bonificação no vestibular, vantagens a alunos negros, pobres, de escola pública, deficientes ou indígenas. Das 51 instituições, 18 são universidades estaduais. Elas representam 51% do total de 35 mantidas por Estados no Brasil.

Das 53 universidades federais, 22 têm ações afirmativas. Além de universidades (instituições com mais autonomia e exigência de investimento em pesquisa), há também na lista faculdades, centros universitários e Cefets. O Mapa das Ações Afirmativas mostra ainda que as cotas --onde determinado percentual de vagas é reservado a um grupo-- são a ação mais comum. Só sete instituições públicas adotam a bonificação-- em que um candidato recebe pontos adicionais em relação aos demais, sem percentual de vagas preestabelecidas. No caso dos negros (somatório dos autodeclarados pretos e pardos), 33 instituições têm políticas voltadas para eles; 18, não.

O critério mais utilizado é o da autodeclaração, ou seja, a cor da pele ou etnia é definida pelo próprio estudante. Para o autor do levantamento, Renato Ferreira, é preocupante o fato de muitas instituições não adotarem o critério racial. Militante do movimento negro, ele diz que apenas o critério social – beneficiando só alunos carentes ou de escolas públicas sem fazer distinção de raça ou cor – pode não ser suficiente para os negros. 'O sistema de cotas no Brasil foi criado principalmente para a inclusão do negro nas universidades e acabou beneficiando também outras minorias. O número de instituições que não utilizam corte racial, no entanto, cresceu. É um retrocesso. Estão flexibilizando o sistema e excluindo os negros.'

A antropóloga da UFRJ Yvonne Maggie, contrária a políticas como as de cotas, discorda. 'Para tornar o sistema mais justo, é imprescindível que se melhore a educação oferecida aos mais pobres, sendo eles negros, brancos, indígenas ou orientais. O sistema de cotas é só um atalho que não nos levará a romper com nossa estrutura altamente iníqua.' Para ela, não é correto falar em grupos excluídos das universidades. 'É uma falsa questão. O Brasil é um país injusto para todos os pobres e não construiu políticas voltadas para excluir grupos específicos. Os orientais, por exemplo, têm melhor desempenho e não podemos dizer que haja aí discriminação contra brancos.'

Em 2006, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do IBGE, 30,4% dos estudantes do ensino superior se declararam pretos ou pardos. É um percentual menor do que os 49,5% no total da população, mas que vem crescendo ininterruptamente desde 1998, quando representavam somente 17,6% dos alunos no ensino superior.

Fonte: Folha de S.Paulo, matéria de ANTÔNIO GOIS

Emir Sader: “os brancos são mais iguais”

O lema fundamental da dominação capitalista e imperialista continua sendo: “Civilização ou barbárie”, em que eles se apropriam do primeiro e reservam o segundo para todos os outros. São brancos, ocidentais, protestantes ou católicos, europeus ocidentais ou estadunidenses. Mas é a cor da pele a bandeira da sua ‘superioridade’.

Hollywood, a maior fábrica de racismo do mundo recontou a história do massacre das populações indígenas nos EUA como uma saga da ‘civilização’ resgatando o território da dominação dos peles vermelhas “traiçoeiros” diante do indômito cowboys, chamados de “mocinhos”.

A cada tanto tempo ressurgem nos EUA teorias e afirmações racistas sobre a suposta inferioridade intelectual dos negros. Antes das declarações do Prêmio Nobel sobre o tema, anos atrás apareceu a “teoria dos sinos”, repetindo a mesma ladainha. Os negros teriam características que fariam deles excelentes para atividades atléticas. Chegam ao requinte de fazer mapas da origem dos africanos, definindo que os de certas regiões seriam mais adaptados para corridas de longas distâncias, pela resistência, outros de curta distância, pela rapidez.

Não entram nesses cálculos a colonização e a escravidão, que parecem fenômenos passageiros, que não deixam marca nenhuma na trajetória dos que enriqueceram e dos que empobreceram com elas. Tratava-se do recrutamento de uma raça inferior para trabalhar para uma raça superior, para o “progresso”, para o “desenvolvimento”, como se tratasse de categorias atemporais, que beneficiassem a “humanidade”, a civilização”, apropriadas pelos brancos ocidentais cristãos.

Apoiados nesses raciocínios pseudamente científicos, desqualificar as outras etnias, além de obter ganhos imediatos, entre os quais, centralmente, o fim das políticas de cotas. Não adiantaria tentar promover os negros, porque sua inferioridade seria genética.

Quando conseguiram isso na Califórnia, o resultado foi arrasador para os negros: os brancos e os de origem asiática repartiram entre si as vagas nas universidades, praticamente excluindo os negros. Disso se trata: de manobras intelectuais que justifiquem a imposição da hegemonia das idéias dominantes na sociedade mercatilizada dos EUA: os pobres – entre eles os negros – não são produtos da estrutura econômica e social do país, porém “perdedores” em um jogo em que tiveram as mesmas oportunidades que os outros e foram vencidos no concurso meritocrático da excelência, da produtividade, do custo benefício.

Todos são iguais, mas os brancos são mais iguais, mais “civilizados”, mais inteligentes – e mais ricos, mais poderosos, mais beligerantes, mais agressivos, mais discriminadores, mais exploradores.

Emir Sader é sociólogo

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Lei 10.639: cinco anos em janeiro

A Lei 10.639, que torna obrigatório o ensino de História da Cultura Africana nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio faz cinco anos em janeiro de 2008. A coordenadora-geral de Diversidade e Inclusão Educacional da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad) do Ministério da Educação (MEC), Leonor de Araújo, afirma, entretanto, que muitos professores, diretores de escolas, pedagogos e a população, de maneira geral, não conhecem a lei.

“Não podemos continuar com uma escola que tem como referência teórica apenas uma cultura de formação do povo brasileiro, que é a cultura branca européia. Precisamos referendar também os alunos que têm outras matrizes étnico-raciais na sua formação”, disse a professora.

Na semana passada, o grupo de trabalho da Secad que trata do assunto reuniu-se para definir as ações que serão implementadas a partir do próximo ano até 2010. Segundo a professora, haverá seminários regionais e um encontro nacional, e será elaborado um documento que deve servir de referencial para o programa de ampliação e de implementação da lei. Também deverá sair um decreto para dizer qual é a obrigação do governo federal com a institucionalização da Lei 10.639, acrescentou Leonor.

Na opinião da professora, a lei vem sendo implementada no país de maneira bem eventual. “Chegamos à conclusão de que, para que a implementação da lei seja realmente efetiva na rede básica, precisamos de uma orquestração nacional.”

Ela informou que, atualmente, existem apenas ações do MEC, como programas de formação de professores, já com 15 mil formados, e produção de material didático em pequena escala sobre o tema. “Nossa meta é formar pelo menos 150 mil professores por ano para chegar a 2010 com a média de 400 mil professores formados. Assim pretendemos que toda rede básica de educação de ensino fundamental e médio esteja implementando a lei.”

A Lei 10.639, de 2003, altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1966. “Se a lei não for cumprida, é como se você não estivesse cumprindo a LDB. Por isso, a escola pode ser notificada e até fechada”, disse a coordenadora. “O que nós queremos é combater o racismo e fazer com que haja mais respeito à diversidade, aos que são considerados diferentes, que sejam apenas diferentes, que eles não sejam desiguais. Então, precisamos trabalhar essa perspectiva nas três ações principais: formação dos professores, produção do material didático e sensibilização dos gestores da educação.”

Da Agência Brasil, por Tatiana Matos

Líder da oposição do Quênia Raila Odinga diz que é primo de Barack Obama

O líder da oposição queniano Raila Odinga, que reivindica a vitória na eleição presidencial do final de dezembro, revelou nesta terça-feira que foi contatado pelo candidato à indicação democrata nos Estados Unidos Barack Obama, que seria, segundo ele, seu primo. "O pai de Barack Obama é meu tio materno", afirmou Odinga ao comentar o fato de que tanto ele como o jovem senador americano pertencem à comunidade luo, do Quênia.

"Barack Obama me ligou duas vezes ontem (segunda-feira) para expressar preocupação e para me informar que ia telefonar também para o presidente Mwai Kibaki para convencê-lo a encontrar uma solução negociada satisfatória" para a crise que assola atualmente o Quênia, declarou Odinga.

Desde o dia 30 de dezembro e o anúncio da reeleição do presidente Kibaki, Odinga luta para ser reconhecido como o vencedor da presidencial de 27 de dezembro passado. Esta contestação provocou uma onda de violência no Quênia, que deixou pelo menos 600 mortos. Kibaki "sabe que não há nenhuma base para que eu o encontre diretamente, pois roubou uma eleição. Eu venci, e ele perdeu", afirmou Odinga.

"Fomos enganados, a população deste país foi enganada. Estamos numa crise constitucional", prosseguiu. O presidente em exercício da União Africana (UA), o chefe do Estado de Gana John Kufuor, desembarcou no fim da tarde desta terça-feira em Nairóbi para ajudar a resolver a profunda crise que abala o Quênia.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Comunidades afro sofrem violações na Colômbia

O Comitê de Integração do Maciço Colombiano (CIMA) e a Fundação Estrella Orográfica do Maciço Colombiano (FUNDECIMA) denunciaram uma série de violações que tem ocorrido às comunidades afro descendentes do Corregimento de El Hoyo-Patía, na Colômbia. O comunicado tornou pública algumas das demandas destas comunidades, que ocupou a via Piedrasentada para pressionar o cumprimento de acordos pactados com as empresas mineiras, acusadas de causar os danos às comunidades.

Entre as demandas estão: o melhoramento da situação trabalhista dos mineiros e garantias de segurança social pelas mesmas empresas mineiras; mitigação dos danos ambientais ocasionados pelas explorações mineiras, em particular do carbono; inversão das regalias geradas pelas explorações mineiras nas necessidades das comunidades; e a supervisão das empresas e a satisfação das necessidades das comunidades com a intervenção das autoridades competentes como Ministério do Ambiente, Prefeitura Municipal de Patía, Governo de Cauca, Órgãos de Controle e Proteção Social.

Segundo o comunicado, o dano mais recente tem sido causado pelas exploradoras de carbono como El Porvenir, Asomintac e Carbones, que vêm saqueando o recurso e gerando deteriorações ambientais. Apesar das promessas de contraprestações em troca, os compromissos não foram cumpridos.

Um dos exemplos é a Empresa El Porvenir, que em fevereiro prometeu à comunidade a disponibilidade de $1,2 bilhões para o concerto da via. Até agora, o recurso não foi liberado e a via continua em um estado crítico o que impede o acesso à zona e o trânsito de produtos para o mercado regional.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Obama sai na frente em Iowa

Pesquisa do Jornal Des Moines Register, do Estado de Iowa – que tem 93% de sua população branca – aponta o senador Barack Obama como favorito nas primárias, na disputa contra a senadora Hillary Clinton. As primárias americanas para as eleições deste ano começaram a ser disputadas nesta quinta-feira (03/01) por Yowa.

Obama, senador pelo Estado de Illinois aparece com 32% das intenções de voto entre os democratas do Estado, contra 25% de Hillary e 24% do ex-senador John Edwards. Também pesquisa da Reuters/C-SPAN/Zogby aponta crescimento de Obama que subiu dois pontos, enquanto Hillary perdeu dois, o que os deixa empatados. John Edwards segue em terceiro lugar, com 26%.

Entre os republicanos, a enquete do jornal mostra Huckabee em primeiro lugar com 32%, seguido pelo ex-governador de Massachusetts, Mitt Romney, com 26%. As primárias de Iowa são consideradas chave porque dão fôlego aos candidatos vencedores. O resultado também serve como termômetro para que os concorrentes que estão se arrastando nas pesquisas desistam da corrida e negociem um apoio que pode ser decisivo para outra candidatura.

Livro resgata importância histórica das relações com Angola na formação do país

O Trato dos Viventes - Formação do Brasil no Atlântico Sul, do historiador Luís Felipe de Alencastro, professor titular da Universidade de Paris-Sorbonne, mostra em 528 páginas que a formação de nosso país teria sido engendrada em grande parte na África Central. Alencastro defende que, nos séculos XVI e XVII, o Brasil foi um pólo de produção escravista dependente e organicamente ligado a Angola, um outro pólo produtor de mão-de-obra escrava para a agricultura brasileira. A formação do Brasil, portanto, seria um resultado da relação entre esses dois países.

"A nossa História não está restrita ao nosso território", afirma o autor. Tendo o Atlântico Sul como ligação, a trajetória do Brasil dos séculos XVI e XVII está intimamente ligada à de Angola. Com uma ocupação portuguesa efetiva, esse país teve seus reinos independentes dizimados e limitou-se a desenvolver uma economia complementar à brasileira. A prioridade era o fornecimento de escravos para o mercado brasileiro, e atividades que pudessem concorrer com a agroindústria exportadora do Brasil não eram incentivadas. Sob esse aspecto, Alencastro sustenta que o Brasil, tradicionalmente visto como um país explorado, também explorou. "Angola foi pilhada pelos brasileiros, ou pelos colonos deste enclave lusitano", afirma o historiador. Isso ocorreu por meio de guerras com o intuito de aumentar o tráfico de escravos.

A dinâmica de ligação entre os dois pólos pelo tráfico negreiro gerou conseqüências para o Brasil contemporâneo. Alencastro afirma que a agressividade do tráfico no Rio de Janeiro pode ser um exemplo de como os maus tratos aos escravos podem estar ligados à violência atual. "Mais da metade da população do Rio de Janeiro no século XIX era de escravos, fato que não existiu em nenhum lugar do mundo."

A tese exposta por Alencastro em O Trato dos Viventes começou a ser desenvolvida em 1986, durante seu doutoramento pela Universidade de Paris-Nanterre, sob supervisão do professor Frédéric Mauro, e foi amadurecida durante anos. Seu livro, publicado pela Companhia das Letras, estava sendo aguardado com expectativa no meio acadêmico. Mas o autor evita ser comparado a outros grandes estudiosos da formação do Brasil, como Sergio Buarque de Hollanda ou Caio Prado Júnior. "Não tenho pretensão alguma em relação a isso", nega ele.

Texto: Mara Figueira/Ciência Hoje