sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Noite de Terror: Itamar Assumpção

Embalo, com Itamar Assumpção

Itamar Assumpção: urbano, experimental, ritmado, universal...


Itamar Assumpção nasceu em 1949 na cidade de Tietê, interior de São Paulo. Descendente de escravos angolanos, o cantor ouvia desde pequeno a música dos terreiros de candomblé, que vinham do quintal da sua casa. De 63 a 73, Itamar morou no Paraná e lá iniciou sua carreira musical, largando um curso de contabilidade. Na época, conheceu Arrigo Barnabé, um de seus parceiros mais constantes. Em 1973, Itamar mudou-se para São Paulo. Em 1980, lançou seu primeiro LP: Beleléu, Leléu, eu, com a banda Isca de Polícia. Tanto este como os dois lançamentos seguintes (Às Próprias Custas, de 1983, e Sampa Midnight, de 1986) foram feitos de maneira independente.

A voz percussiva de Itamar, ora cantada, ora falada ajusta-se perfeitamente às suas letras irreverentes, permeadas de irônicas observações sobre o cotidiano da cidade grande. Explorando a teatralidade na sua forma de expressão musical, também atingiu um modo peculiar de cantar. Com arranjos bem elaborados, explorando polirritmias, jogando com os sons e fonemas das palavras, misturando num mesmo caldeirão o rock, o samba, o funk, o soul, o blues e o reggae, construiu uma obra difícil de ser categorizada e assimilada comercialmente. Conforme escrito na contracapa do seu segundo LP, "Às Próprias Custas S.A."(produção independente de Isca Gravações Musicais Ltda., gravado ao vivo, em 1983), a sua música é autodefinida como "jovem para todas as idades, popular, urbana, universal, experimental, ritmada, instrumental, cantada, berrada, sussurrada, sutil, tropical, tal e tal".

O Festival de Música da Feira de Artes da Vila Madalena, promovido pelo teatro Lira Paulistana, em agosto de 1980, revelou o "Nego Dito", canção que ficou em terceiro lugar. O trabalho criativo de Itamar, o sucesso de público e as produções fonográficas independentes que vinham se tornando viáveis, motivaram a criação do selo Lira Paulistana. Seu primeiro disco, "Beleléu, leléu, eu", mistura diversos ritmos estrangeiros ao samba, resultando num trabalho de grande elaboração rítmica, mas também com sensível conteúdo poético, que seria marcante durante toda a sua carreita, ao estabelecer parcerias com Alice Ruiz e Paulo Leminski, entre outros poetas.

Fonte: Anais III Fórum de Pesquisa Científica em Arte
Escola de Música e Belas Artes do Paraná, Curitiba, 2005

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

"Músico": Carlinhos Brown, Marisa Monte e Bebo Valdez

Carlinhos Brown: musicalidade e encontro de culturas

Porto de chegada de culturas várias através dos séculos, a Bahia frutifica e se renova, num estado de permanente formação. Europeus, africanos, indígenas, orientais... os ventos e raças conflitam e se fundem dando origem a um jeito de ser baiano. Salvador, sua capital, acolhe e abriga em seus nichos estes filhos venturosos, aplaudindo a maravilha da miscigenação.

Dentro deste universo, floresce e resiste às mutações do tempo a comunidade do Candeal Pequeno, com características tribais de relacionamento sócio-econômico, em que a família é base, eixo e ninho de onde se arremessa o filho para o vôo. Ali, em 1962, nasce Antônio Carlos Santos de Freitas, de negra pele que transpira curiosidade, negros olhos que captam e espelham novos tons.

Este pequeno aguadeiro acaba por desaguar nos veios do Mestre Pintado do Bongô - Osvaldo Alves da Silva - seu condutor no fluido musical. Mestre Pintado ensina ao menino Carlinhos mais que tocar instrumentos, ele o ensina a como “trabalhar com música” - o que seria fundamental na sua formação - e vaticina a sua projeção artística.
Das mãos de Mestre Pintado, em sua companhia pelas noites festivas dos bares e casas de show da fervilhante Salvador da década de 70, Carlinhos parte do Candeal para desfrutar de uma rica convivência no diversificado ambiente musical dos festivais promovidos pelos colégios da cidade e, desde então, como músico e compositor, desperta a atenção dos que o cercam por sua inata competência na arte de fundir, redescobrir e percutir sons.

Dançando na rua, a música e a dança das ruas, ganha a alcunha que lhe será bandeira: Carlinhos Brown, como o músico James Brown, como o militante H. Rap. Brown - Black Panther - sendo o próprio Carlinhos uma fusão de músico e militante, não de uma raça, mas de uma rica multiplicidade cultural. A música de Carlinhos Brown é extremamente abrangente, comunica não por ser a música em si uma linguagem universal mas, por sua música ser visceral e espiritual, que ecoa pelo vento, nos quatro cantos e por todos os lados, partindo das raízes da terra.

Brown redescobre e reinventa o timbau como seu instrumento de escolha, por sua flexibilidade e versatilidade, que são elementos também dele próprio. Mas ele é mais que um percussionista, é um prisma de sons que se coloca como receptáculo e veículo de uma obra maior que ele mesmo.

Partindo do ambiente musical vivido no Candeal entre sopros, batuques e canções, ouvindo a música das ruas e das coisas, trança uma trajetória dinâmica e rica tocando, arranjando e compondo com e para os mais diversos artistas e grupos, representantes de variados estilos, passando por todos eles como mestre e aprendiz.

No começo dos anos 80, chega aos estúdios WR e ali aprende técnicas de sonorização e produção - aprendizado que mais tarde se materializaria em "Ilha dos Sapos", seu estúdio, com equipamentos de última geração e totalmente voltado para a viabilização do melhor rendimento dos artistas - de onde produzirá, entre outros, CDs de Margareth Menezes e Arnaldo Antunes.

Brown segue penetrando em todos os meios musicais e percorrendo diversas vertentes aperfeiçoando os seus dons. É um descobridor, um experimentador que não teme riscos e extremamente produtivo, chegando, em 1985, a ter vinte e seis músicas tocando nas rádios - pelo que ganha o Troféu Caymmi, mais importante prêmio da música baiana.

Fonte: Site Oficial de Carlinhos Brown
www.carlinhosbrown.com.br

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Agentes de Pastoral Negros elegem nova coordenação na Bahia

Os Agentes de Pastoral Negros da Bahia – QUILOMBO MALÊS realizaram nesta sábado (16), no município de Vitória da Conquista, Assembléia Geral para definição do calendário de atividades para o biênio 2008/2009, eleger delegados para a assembléia nacional (Março, em São Paulo) e eleger sua nova coordenação. O jornalista e historiador Fábio Sena, 33, foi eleito coordenador-geral da entidade no Estado.

Durante a assembléia, foi aprovado manifesto em defesa da ex-ministra Matilde Ribeiro, moção de aplauso ao secretário estadual Luiz Alberto pelo trabalho desenvolvido à frente da Secretaria Estadual de Promoção da Igualdade da Bahia/Sepromi e uma defesa do seu nome para assumir a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial/Seppir. A assembléia entendeu que, embora já tendo havido a indicação do deputado federal Edson Santos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o cargo, seria necessário firmar o nome de consenso dos APN’s baianos para o cargo.

Para Fábio Sena, o movimento negro brasileiro enfrenta uma das mais difíceis etapas da luta anti-racista no Brasil. “O aprofundamento do debate acerca das ações afirmativas nos diversos níveis mobilizou os setores historicamente beneficiados pela exclusão social e econômica dos negros. Neste momento, é necessária uma ação política bem definida de combate aos ataques especialmente da mídia, que têm usado como tática de luta a desqualificação das bandeiras do movimento negro, principalmente a questão das cotas raciais nas universidades”.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008



Zé Kéti (José Flores de Jesus) nasceu no Rio de Janeiro RJ em 06 de Outubro de 1921. Neto do flautista e pianista João Dionísio Santana, companheiro do compositor Índio e de Pixinguinha, e filho de um marinheiro tocador de cavaquinho, Josué Vale de Jesus, desde criança interessou-se por música. Aos 13 e 14 anos, quando morava no subúrbio de Piedade, foi levado por Geraldo Cunha, compositor do G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira e parceiro de Carlos Cachaça, para assistir a ensaios daquela escola, seu primeiro contato com a música dos morros. Mais tarde, mudou-se para o subúrbio de Bento Ribeiro e foi levado para o G.R.E.S. da Portela pelo compositor, e depois presidente da escola, Armando Santos. Começou a desfilar em sua ala dos compositores e a compor, sem mostrar suas músicas a ninguém, só o fazendo mais tarde, aos 18 anos, quando já freqüentava as rodas boêmias do Café Nice, levado por Luís Soberano. Afastou-se dos meios musicais entre 1940 e 1943, quando serviu como soldado na Policia Militar. Por essa época, compôs sua primeira marcha carnavalesca, Se o feio doesse. Teve sua primeira composição gravada, Tio Sam no samba (com Felisberto Martins), pelos Vocalistas Tropicais, em 1946. No mesmo ano, Ciro Monteiro gravou para o Carnaval, com Raul de Barros (trombone), Gilberto (ritmo) e Odete Amaral (coro), Vivo bem (com Ari Monteiro). Em 1952, Linda Batista lançou em disco Amor passageiro, sucesso no Carnaval desse ano. Seu êxito seguinte foi Leviana, lançado como samba de terreiro na Portela e mais tarde gravado por Jamelão.

Antes de 1954, afastou-se da Portela por acusações que punham em duvida a autoria de suas músicas, transferindo-se então para a União do Vaz Lobo. Aí lançou A voz do morro, gravada em 1955 por Jorge Goulart, com grande sucesso. Em 1955, A voz do morro e Leviana foram incluídas no filme Rio, 40 graus, de Nelson Pereira dos Santos. Retornou a Portela e, em 1960, participou das atividades musicais do restaurante Zicartola, atuando como apresentador dos velhos compositores, ainda então desconhecidos do público, como Cartola e Nelson Cavaquinho, e dos novos, como Paulinho da Viola e Elton Medeiros. Em 1961 lançou, na quadra de ensaios da Portela, o samba Velha guarda da Portela, obtendo sucesso. Nesse ano ainda, o cantor Germano Matias gravou com êxito o samba Malvadeza Durão. Em 1962, o compositor, aproveitando o sucesso do samba A voz do morro, idealizou um conjunto homônimo que começou a ensaiar com a participação de Nelson Cavaquinho, Cartola, Elton Medeiros e Jair do Cavaquinho. Em 1964, ao lado de Nara Leão e João do Vale, encenou o show Opinião, em que lançou alguns sambas de sucesso, como Opinião, Acender as velas e Diz que fui por aí (com Hortênsio Rocha). Por essa época, Nara Leão gravou em seu primeiro disco solo (Nara) o samba Diz que fui por aí.

Em seu disco Opinião de Nara, ela incluiu duas outras composições suas, Opinião e Acender as velas. Também em 1964, Germano Matias lançou Nega Diná e O assalto e, no ano seguinte, o compositor recebeu convite da Musidisc para gravar seus sambas numa fita a ser entregue aos cantores da gravadora, para escolha de repertório. Lá compareceu, levando outros sambistas até então desconhecidos, como Paulinho da Viola, Nescarzinho do Salgueiro, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, Oscar Bigode e Zé Cruz, que fizeram o acompanhamento e apresentaram seus sambas. A gravadora resolveu lançar então o LP Roda de samba, com o conjunto de sambistas denominado A Voz do Morro, concretizando antigo plano seu. Esse mesmo conjunto, com Nelson Sargento, gravou mais dois LPs, um pela Musidisc (1965) e outro pela RGE (1966). O compositor teve ainda dois sambas, em parceria com Elton Medeiros – Mascarada e Samba original – gravados no LP Na madrugada, interpretado por Paulinho da Viola e Elton Medeiros, lançado pela RGE em 1966. Para o Carnaval de 1967, compôs a marcha-rancho Mascara negra (com Hildebrando Pereira Matos), embora a primeira parte tenha sido atribuída ao irmão deste, Deusdedith Pereira Matos. Foi um dos maiores êxitos de sua carreira. Tem-se apresentado em shows de televisão e em boates. No cinema, em 1957 teve seus sambas Malvadeza Durão e Foi ela incluídos no filme Rio, zona norte, de Nelson Pereira dos Santos.

Em 1958, sua música A flor do lodo foi incluída no filme Grande momento, de Roberto Santos. Seus sambas também seriam incluídos nos filmes Boca de ouro (1962), de Nelson Pereira dos Santos. A falecida (1965), de Leon Hirszman, e A grande cidade (1966), de Carlos Diegues. Nas décadas de 1970 e 1980, morou em São Paulo SP. Em 1990, de volta ao Rio de Janeiro, participou de uma remontagem do show Opinião. Em 30 de dezembro de 1994, durante show de Paulinho da Viola com a Velha Guarda da Portela, no Leme, Rio de Janeiro, subiu ao palco a convite e cantou varias músicas. Em 1996, aos 75 anos de idade e mais de 200 músicas compostas, gravou o primeiro CD da série Rio Arte Musical, produzido por Henrique Cazes, com quatro músicas inéditas e vários antigos sucessos. Ainda em 1996, em junho, o cantor Zé Renato (ex-Boca Livre) lançou o CD Natural do Rio de Janeiro, com 14 músicas suas. Em outubro desse mesmo ano, subiu ao palco junto com a cantora Marisa Monte e a Velha Guarda da Portela (Jair do Cavaquinho, Monarco, Casquinha e Argemiro) e interpretou com enorme sucesso alguns clássicos do samba, como A voz do morro e O mundo é um moinho (Cartola), entre outros. Em 1997 completou 60 anos de carreira e foi homenageado com o show Na Casa do Noca, na Gávea, Rio de Janeiro. Ainda em 1997, recebeu da Portela um troféu em reconhecimento por seu trabalho e participou da gravação do disco Casa da Mãe Joana. A Editora Globo lançou, em 1997, o fascículo com CD Zé Kéti na coleção MPB Compositores, n.º 32.

Biografia: Enciclopédia da Música Brasileira

Luiz Melodia, o pai da música


Luiz Melodia, nome artístico de Luiz Carlos dos Santos (Rio de Janeiro, 7 de janeiro de 1951) é um cantor e compositor brasileiro de MPB.

Começou sua carreira musical em 1963 com o cantor Mizinho, ao mesmo tempo em que trabalhava como tipógrafo, vendedor, caixeiro e músico em bares noturnos. Em 1964 formou o conjunto musical Os Instanâneos, com Manoel, Nazareno e Mizinho. Lança seu primeiro LP em 1973, Pérola Negra. No "Festival Abertura", competição musical da Rede Globo, consegue chegar à final com sua canção "Ébano".

Nas décadas seguintes Melodia lança diversos álbuns e realiza shows, inclusive internacionais. Em 1987 apresenta-se em Chateauvallon, na França e em Berna, Suíça, além de participar em 1992 do "III Festival de Música de Folcalquier" na França.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Edson Santos é confirmado no Ministério da Igualdade Racial

O deputado federal Edson Santos (PT-RJ) será o nome escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assumir o Ministério da Igualdade Racial. A indicação foi confirmada nesta quarta-feira por petistas.

Ex-vereador, Edson Santos era um dos nomes cotados para ser o candidato do PT à prefeitura do Rio de Janeiro no segundo semestre. Ele assume a pasta em substituição a Matilde Ribeiro, que pediu demissão no início do mês depois das acusações de abuso nos gastos com cartão corporativo. As denúncias geraram uma CPI mista, criada na segunda-feira após um acordo entre governo e oposição e que vai investigar os gastos dos últimos dez anos, englobando os governos Fernando Henrique e Lula.


O ministério vinha sendo ocupado interinamente pelo secretário-adjunto Martvs das Chagas. Ele também estava cotado para o posto, assim como a cantora Leci Brandão.
Entidades do movimento negro querem ministro com perfil articulador
Representantes de movimentos sociais negros avaliavam mais cedo que, mais que um nome específico, o Ministério da Igualdade Racial precisa de ampliação da estrutura e mais articulação com a sociedade.


O nome da cantora Leci Brandão foi apontado pelo fundador e conselheiro da ONG Educação e Cidadania de Afro-Descendentes e Carentes (Educafro), frei David, como a "indicação da comunidade negra" para substituir a ex-ministra. No entanto, a indicação não é consensual, segundo representantes do Movimento Negro Unificado (MNU) e da União de Negros pela Igualdade (Unegro).


- O nome da Leci é um dos nomes apontados, mas não é um consenso. Temos vários quadros dentro do movimento negro, dentro das várias vertentes, dos vários segmentos - afirmou Marta Almeida, coordenadora do MNU em Pernambuco.


O secretário de Promoção da Igualdade da Bahia, Luiz Alberto Silva, e o secretário-executivo do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap), Ivanir dos Santos, foram apontados como sugestões por Marta. De acordo com Julião Vieira, integrante da executiva nacional da Unegro, Leci Brandão "seria um bom nome", mas, segundo ele, a lista de possíveis indicações é mais ampla, com "seis, oito ou dez nomes" e está em discussão nos bastidores.


- Quem vier tem que ter um perfil de maior amplitude e interlocução com o movimento negro brasileiro e o movimento social, com a academia (o setor acadêmico), com o movimento sindical - avaliou Vieira.


A representante do MNU não descarta a indicação de um branco para o Ministério.
- Seria coerente, dependendo do perfil do indicado, é uma secretaria de promoção da igualdade racial, pode ser um ministro judeu, indígena. Tem que ter o perfil: não-racista, não-homofóbico e com sensibilidade para os movimentos sociais e para a questão racial - pondera.
Já a fundadora da organização não-governamental (ONG) Geledés - Instituto da Mulher Negra, Sueli Carneiro, defendeu que "não é responsabilidade da comunidade negra" indicar nomes para o ministério.


- A secretaria é uma proposta do governo, que emerge dos compromissos assumidos pelo PT e sua base aliada com sua militância política; então, a definição desse nome é de responsabilidade e de competência do PT, da sua militância e das forças políticas que estão na base aliada desse governo. É esse segmento que tem que sugerir esse nome - avaliou.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Pesos e medidas

Não, não há racismo na demissão de uma gestora pública em nível de ministra sobre a qual pairem suspeitas de uso indevido de dinheiro público ou erro administrativo — tratando-se ou não de pessoa negra. Há, no entanto, racismo e discriminação no tratamento que foi dispensado à ex-ministra Matilde Ribeiro dentro e fora do governo.

A ministra não é chamada pelo presidente da República, de quem seria pessoa de confiança, para se explicar. É sabatinada com direito a muitos “pitos” e aconselhamento para se demitir por outros três ministros supostamente equivalentes a ela. Evidencia-se aí o que parece ser o caráter simbólico do título de ministra. Demitida, é exposta numa patética coletiva de imprensa, jogada aos leões, sem a presença de nenhuma das figuras de expressão do governo ou de seu partido para emprestar-lhe “solidariedade” como houve em outros casos similares.

Na mídia, proliferam charges que extrapolaram, em muito, o objeto central das irregularidades de que era acusada. De forma grotesca, deram plena vazão aos estereótipos. As ilustrações de sua figura nos órgãos de imprensa serviram-se de todos os clichês correntes em relação às pessoas negras. Em uma delas, ela é representada sambando com batas africanas e tranças rastafári, como se esses traços de identidade falassem por si e, portanto, explicassem os erros que lhe custaram o cargo.

Foucault já explicou como se dá esse processo que ele nomeou de “dobrar o delito” acoplando-lhe “uma série de outras coisas que não são o delito mesmo, mas uma série de comportamentos, de maneiras de ser que (...) são apresentadas como a causa, a origem, a motivação, o ponto de partida do delito”. O resultado dessa operação é que a falha cometida se torna a marca, o sinal de uma suposta imperfeição congênita de uma pessoa ou, mais ainda, de seu grupo social.

É como se estivesse inscrito em sua natureza, devendo, por isso, ser objeto de humilhação pública para servir de alerta aos que se esquecem dessa ausência “natural” de qualidade e os elevam a posições para as quais não estariam talhados. Presta-se também como ameaça aos outros, do mesmo grupo inferiorizado, que porventura ousem desejar atingir os mesmos postos. São formas de punição preventivas e educativas em que a estigmatização e a humilhação funcionam para reafirmar a incapacidade e despreparo para assumir função diretiva. Em outras palavras, a necessidade de controle social e tutela desses segmentos sociais.

Adicional e imediatamente promoveu-se a confusão entre a pessoa da ministra e sua pasta. Passaram a pedir não apenas a sua cabeça mas também a extinção do órgão que dirigia. Alguém imagina pedir-se a extinção de qualquer outro ministério ou secretaria especial porque seu titular cometeu um desvio de conduta?

Veiculou-se na imprensa que o presidente Lula estaria “particularmente aborrecido porque lutou muito pela criação da Secretaria da Igualdade Racial, antiga reivindicação do movimento negro, e foi criticado pela decisão de criar mais uma pasta. Para o presidente a atitude de Matilde Ribeiro dá agora argumentos aos adversários para quem a secretaria não tem função”.

Ora presidente, a disfunção da então ministra não pode confundir-se com a função da secretaria como desejam os adversários. A contaminação dos atos da ministra sobre a pasta que estava sob seu comando pode ser justificativa para ceder às pressões daqueles que, dentro e fora do governo, operam para a desestabilização daquele órgão; aqueles que propagam que não somos racistas no Brasil e, portanto, negam as mazelas sociais que o racismo produz e conseqüentemente esvaziam de sentido essa secretaria.

Enquanto Matilde Ribeiro é convidada a se demitir, outros se tornam ministros ou assumem mandatos parlamentares com suspeitas muito graves. Portanto, há discriminação quando as regras não se aplicam igualmente a todos, ou melhor, no fato de que alguns devem ser exemplarmente punidos e outros não. Há racismo na associação entre a negritude da ministra e seus atos. Há racismo no aproveitamento político de falha pessoal de uma gestora pública para a desqualificação da pasta que ela dirigia. Há racismo na utilização das irregularidades cometidas para negar a existência do problema racial e da necessidade de que o seu combate seja objeto de políticas públicas.

A agenda de combate ao racismo e promoção da igualdade racial permanece como compromisso do governo no plano nacional e internacional, gostem ou não gostem os detratores. O presidente Lula da Silva precisa estar atento para que o caso de Matilde Ribeiro não seja usado, indevidamente, como o álibi perfeito para o abandono e negação desses compromissos. A crise na Seppir é também oportunidade de dotá-la das condições políticas e materiais necessárias para estar à altura desses compromissos — sobretudo o de transversalizar o tema da promoção da igualdade racial nas diversas áreas da administração pública.

Sueli Carneiro, doutora em filosofia da educação, é diretora do Geledés — Instituto da Mulher Negra
Fonte: Correio Braziliense

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

National Geográphic traz tudo sobre os Faraós Negros

A revista National Geograhic Brasil, do mês de fevereiro, traz uma matéria excelente sobre os Faraós negros, não só do Egito, mas também da Núbia, atual Sudão. São muitos os pontos altos do texto: o primeiro deles, o caráter dialógico da organização e apresentação dos resultados de pesquisas de arqueólogos e historiadores sobre a existência e modo de governar dos Faraós negros, oriundos da Núbia. Trata-se de tema complexo, desde as postulações dos egiptólogos afrocêntricos que reivindicam a negrura de todos os antigos egípcios, de Tutankhamon a Cleópatra, aos historiadores negligentes em relação à civilização construída pelos núbios e expoentes de uma “ignorância absoluta do passado da África”, ou mesmo aos racistas que mesmo diante de indícios irrefutáveis, encontrados por eles mesmos, não admitiam que negros pudessem ter construído uma civilização.

Destaca-se também a atualização da matéria por meio de uma perspectiva da História que aproxima o passado do presente, ao mesmo tempo que informa de maneira embasada e crítica. Leia-se o trecho abaixo: “Atualmente as pirâmides do Sudão – mais numerosas que as do Egito – são espetáculos assombrosos no deserto da Núbia. É possível perambular por elas sem nenhum temor, mesmo se estivermos desacompanhados, como se a região nada tivesse a ver com o genocídio no país, a crise dos refugiados em Darfur ou as conseqüências da guerra civil no sul. Enquanto cerca de mil quilômetros ao norte, no Cairo ou em Lúxor, multidões de turistas curiosos desembarcam de um ônibus após outro, espremendo-se para ver e apreciar as maravilhas egípcias, as pouco visitadas pirâmides sudanesas de El Kurru, Nuri e Meroé se erguem serenamente em meio a uma paisagem árida e vazia que mal sugere que ali teve lugar próspera cultura da antiga Núbia. Agora, contudo, nosso vago entendimento dessa civilização está mais uma vez ameaçado de mergulhar na obscuridade.

O governo sudanês constrói uma usina hidrelétrica no rio Nilo, cerca de mil quilômetros acima da barragem de Assua, erguida pelo Egito nos anos 1960 e que transformou grande parte da Baixa Núbia no leito do lago Nasser (chamado de lago Núbia, no Sudão). Até 2009, ficará pronta a enorme barragem de Merowe e um lago com 170 quilômetros de comprimento irá inundar as terras no em torno da Quarta Catarata – assim como milhares de sítios arqueológicos ainda inexplorados. Nos últimos nove anos, os arqueólogos acorreram desesperados à região, realizando escavações a toque de caixa antes que outro repositório de história Núbia tenha o mesmo destino de Atlântida” (p.35).


Fonte: Blog da Cidinha
Visite o sítio da National Geographic Brasil: ngbrasil.com.br

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O nome dela é Ayo

Ela já é uma das cantoras mais badaladas na Europa e seu nome, Ayo, significa “prazer”, em Yorubá. Nascida na Alemanha, fruto da união de pai nigeriano e mãe romena, Ayo foi ainda pequena para a Nigéria e de lá mudou-se para Londres, depois Paris e Nova Iorque. Quando criança, ouvia de Pink Floyd a Felá Kuti, de Soul Children a Bob Marley, além de Bunny Waiter e o Príncipe Sunny Adé, “o herói da Juju Music”.

Nos Estados Unidos produziu seu primeiro álbum. Em Paris, menos de dois anos depois, notícias sobre o seu talento começaram a circular e Ayo já se apresentava com seu violão, abrindo o concerto de Omar, o “soul brother” britânico, ou improvisando com Cody Chestnutt no palco do Elysée-Montmartre. Sonhando em fazer o mesmo com Stevie Wonder. O disco que chega agora às lojas brasileiras foi gravado em apenas cinco dias no esquema “todos ao mesmo tempo e ao vivo” no estúdio. Já estava pronto na cabeça de Ayo. O resultado é uma coleção de canções agridoces, com 12 faixas que retratam as muitas experiências e vivências de Ayo.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Cesária Évora e Salif Keita

Cesária Évora: África nossa

Cesária Évora, a diva dos pés descalços


Também conhecida como «a diva dos pés descalços», que é como se apresenta nos palcos, em solidariedade aos «sem-tecto» e às mulheres e crianças pobres de seu país. A morna, um gênero musical profundo em sentimentos e aparentado ao fado português, cantado em crioulo cabo-verdiano, ela adicionou toques sentimentais com sons acústicos de violão, cavaquinho, violino, acordeão e clarineta. Também várias vezes a ouvimos cantar fado, o qual foi, literalmente conquistado, por esta voz tropical.

O blues cabo-verdiano de Cesária Évora tem como tema a longa e amarga história de isolamento do seu país e do grande comércio de escravos, assim como da saudade e da emigração - o número de cabo-verdianos morando no exterior é maior do que a população total do país.

A voz de Cesária Évora, acompanhada de instrumentos que lhe dão um toque de melancolia, ressalta a emoção, que caracteriza a interpretação. Mesmo platéias que não entendem o idioma, interagem com emoção nas apresentações. Fez vários duetos com Marisa Monte.

Plus Vivant – performance de Lokua Kanza


A suavidade de suas canções somada ao “diabólico” ritmo soukouss, solidificaram a imagem de Lokua Kanza como um músico de múltiplos talentos, cantor, compositor e arranjador preciso. Fundamental para a renovação da música africana, em 1995, foi sucesso absoluto na Europa com a música Shadow Dancer.

Kanza nasceu em Bukavu, província de Kivu, na parte oriental da República Democrática do Congo (ex-Zaire), em 1958. Primogênito de oito filhos de um pai mongo e uma mamãe tutsi, de Ruanda, na adolescência passou a tocar guitarra nas chamadas rumba bands. Após o lançamento de seu primeiro disco Lokua Kanza, em 1993, transformou-se num dos expoentes da música africana no mundo. Dois concertos no Auditorium dês Halles, no centro de Paris, bastaram para transformá-lo num genuíno sucesso. Em 2005, lançou Plus Vivant, cuja tournée mundial chega ao Brasil pela primeira vez.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Eu quero ser o primeiro a salvar Yemanjá


A Festa de Yemanjá é, sem sombra dúvidas, uma das mais vigorosas manifestações populares de devoção. É um cortejo cuja beleza transcende o aspecto material e avança para uma atmosfera para-além do surreal. Ali, se reúnem mais que homens e mulheres... trata-se de uma coletivo de desejos comuns, de uma união de esperas desesperadas, de uma comunhão que suprime de casa um a própria condição de humanidade, para remetê-los, também,a condição de seres sobrenaturais.

Somente quem vivencia todos os aspectos da Festa, não apenas sua consumação em mar aberto, mas os preparos todos, as alegorias, as dores que se desdobram em atos de devoção cega, os mudos silêncios de contrição, as alegrias multiplicadas nos risos de satisfação plena.. somente quem enxerga além do humano poderá estabeçecer um juízo do real significado da festa.

A cor de Yemanjá – É costume indaar-se sobre a condição racial de Yemanjá. Ora, santa de cultura eminentemente afro assume feições européias num Estado majoritariamente afro. A transformação é resultado das investidas dos portugueses contra os negros africanos e seus cultos. Proibidos de cultuar seus próprios deuses, inteligentemente criaram um modelo de devoção que é hoje sinônimo de Bahia: o sicretismo religioso. Enquanto devotavam orações aos deuses negros fingiam terem se adaptado à religião cristã.

Nesse sincretismo, Yemanjá é associada a uma Divindade Católica, Nossa Senhora da Conceição. Desta forma, evitavam castigos e mantinham o culto aos seus deuses: oxossi, ogum, iemanjá, etc. Assim a imagem da deusa iemanjá (ritual africano). Na realidade, a Yemanjá do Candomblé é negra.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Ministra assume erro no uso do cartão corporativo e entrega o cargo

Depois das denúncias de gastos irregulares com o cartão corporativo do governo, a ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, entregou hoje a carta de demissão ao presidente Lula. A situação da ministra à frente do cargo estava insustentável, principalmente depois que foi descoberta uma compra no valor de R$ 461,16 em um freeshop.

Durante entrevista coletiva concedida em Brasília, logo após a entrega da carta no Palácio do Planalto, a ministra disse que assume o erro administrativo, mas que não se arrepende porque foi orientada a usar o cartão por funcionários da Secretaria Especial. "Esse erro não foi cometido exclusivamente por mim. Dois servidores me passaram a orientação sobre o uso do cartão", afirmou Matilde Ribeiro, que também informou a exoneração dos dois funcionários.

A compra no freeshop, considerada "um engano" pela ministra, foi feita no dia 10 de outubro do ano passado. Matilde Ribeiro disse que foi notificada em dezembro sobre o gasto e que a devolução do dinheiro se deu em janeiro. "Se eu tivesse sido alertada antes, teria corrigido o erro. Diante de um erro administrativo, qualquer pessoa tem que responder pelo ato. Erro é erro e aconteceu comigo", afirmou.

Sobre a conversa com o presidente Lula, Matilde Ribeiro disse que o diálogo foi "maduro" e que cabe a ele escolher o seu substituto. Ela disse que está à disposição do governo para as "tratativas necessárias". A ministra responde a uma investigação da Controladoria-Geral da União. De acordo com a CGU, as despesas com o cartão corporativo chegaram a R$ 171 mil no ano passado, sendo que R$ 110 mil foram gastos com o aluguel de carros e R$ 5 mil em restaurantes. A ministra justificou que os gastos ocorreram porque "fora de Brasília, a Secretaria Especial não tem nenhuma estrutura".

Questionada sobre o aluguel de um carro no valor de R$ 2.624,57, pagos com o cartão em 8 de novembro, a ministra confirmou que a locação foi feita no dia 31 de outubro, véspera de Finados. A devolução do carro ocorreu no dia 5 de novembro. Nesse período, segundo o site da Secretaria Especial, a ministra teve compromissos oficiais no interior de São Paulo apenas nos dias 31 de outubro e 5 de novembro. Entre primeiro e quatro de novembro, não há registro de compromissos oficiais. Mas, durante a entrevista, Matilde Ribeiro alegou que permaneceu em São Paulo dos dias 1 a 4/11 para atividades de trabalho, "não-públicas".

Ameaça sobre o Planalto : auditoria do TCU leva investigação sobre cartões corporativo ao gabinete do presidente e pode provocar CPI

A nova ameaça que ronda o Palácio do Planalto tem a forma de retângulos de plástico e possui uma tarja magnética. São os cartões de crédito chamados de cartões corporativos. A Revista ISTOÉ teve acesso com exclusividade a uma ampla auditoria que o Tribunal de Contas da União (TCU) fez nos 42 cartões corporativos da Presidência da República. Eles servem para cobrir gastos e, principalmente, sacar na boca do caixa dinheiro vivo destinado a custear as despesas do gabinete presidencial, incluindo aquelas realizadas pelo casal Marisa e Lula da Silva e seu staff. A auditoria revelou que, a exemplo do que fizeram os ministros Orlando Silva (Esportes), Matilde Ribeiro (Igualdade Racial) e Altenir Gregolin (Aqüicultura e Pesca), os assessores palacianos também estão usando os cartões de forma fraudulenta. "Foram comprovadas fraudes" na utilização dos cartões, certificou o TCU, depois de três anos de investigação. O relatório final do Tribunal de Contas poderá levar para dentro do gabinete de Lula uma série de denúncias que nos últimos dias têm ficado restritas a ministros de pouca expressão.
Depois de três anos de investigação, o TCU detectou irregularidades como notas frias e superfaturamento

É com base nesses documentos que o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), um dos mais atuantes na CPI dos Correios, pretende conseguir as assinaturas necessárias - 171 na Câmara e 27 no Senado - para instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito a fim de investigar os gastos com os cartões corporativos. "É necessário apurar a utilização indevida e ilegal dos cartões e punir os responsáveis antes que novas irregularidades apareçam. Os números mostram que estão gastando cada vez mais e não apenas nos Ministérios, mas também no Palácio do Planalto", disse o deputado depois de analisar uma série de documentos. Entre as fraudes detectadas na investigação do TCU estão o pagamento de diárias a servidores que não foram indicados pelo Planalto como integrantes de comitivas em viagens oficiais, o pagamento de diárias, muitas vezes superfaturadas, em quantidade superior ao período de estadia efetiva e a inexistência das empresas nos endereços consignados nas notais fiscais utilizadas para atestar o gasto, ou seja, a nota fiscal fria. Há casos ainda de emissão de notas fiscais "calçadas", aquelas que registram valores diferentes nas várias vias de mesmo número.

Quase a totalidade dessas irregularidades, que se repetiram ao longo dos seis anos de governo Lula, foi identificada em viagem presidencial, realizada em 2 de maio de 2003, às cidades de Ribeirão Preto e Sertãozinho (SP). Nessa viagem, foram pagas 22 diárias para pessoas que não constavam na lista de membros da comitiva fornecida pela Secretaria de Administração da Presidência, a um custo total de R$ 3 mil. Também foi pago um número de diárias superior ao período da estadia de seis servidores do Palácio do Planalto. Um desses funcionários, que o TCU identifica apenas como "AT", passou apenas dois dias hospedado em hotel em Ribeirão Preto. Mas o cartão de crédito corporativo pagou o dobro: quatro diárias. O servidor da Presidência identificado como "SJ" também hospedou-se por dois dias, mas passou no cartão cinco. Na ida a Ribeirão dos servidores do Palácio do Planalto, também ficou caracterizado o superfaturamento, segundo os auditores do TCU. O total da despesa da comitiva presidencial com hospedagem no hotel foi orçado em R$ 23,8 mil. O problema, frisaram os auditores, é que o "valor pago pela Secretaria de Administração da Presidência em maio de 2003 superou em R$ 13,6 mil o valor de mercado de hospedagem no mesmo hotel em setembro de 2006". Ou seja, três anos depois. No total, a viagem ao município paulista consumiu R$ 18,1 mil apenas em "despesas irregulares", atesta o TCU. No caso de pagamento de despesas com cartão corporativo, durante a estada em Ribeirão e Sertãozinho, foram identificados indícios de irregularidades fiscais com notas emitidas pelas empresas FR Comércio e Serviços, Nova Era Comércio, Memory House, Comércio Importação e Exportação e Trovata Design Editorial Ltda.

O funcionário designado para custear, com cartão de crédito corporativo, as despesas da viagem às cidades paulistas foi Josafá Fernandes de Araújo. Alçado ao cargo de agente administrativo no governo Lula, Josafá começou a trabalhar no Palácio como datilógrafo até chegar às áreas de licitações e compras durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Ele é apenas um dos 42 servidores do Palácio do Planalto encarregados de suprir todas as necessidades do pre- B R A S I L sidente, de sua família e dos ministros palacianos. São eles os ordenadores de despesas oficiais chamados de ecônomos. Precisam trabalhar com agilidade e compram sem licitação. Muitos chegaram ao Planalto com o presidente, como Roberto Suarez. Outros estão no Planalto há mais de uma década, como Josafá e Anderson Ferreira. As primeiras informações sobre o uso abusivo e indiscriminado dos cartões de crédito corporativos pelo governo foram reveladas por ISTOÉ Dinheiro em reportagem de capa em agosto de 2005. Desde então, as suspeitas de utilização ilegal desse mecanismo sempre foram apontadas pela oposição como a prova inequívoca da diluição da fronteira entre o público e o privado pelo governo petista. O assunto pegou fogo nos últimos dias quando foi noticiado que a ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, gastou R$ 171,5 mil em viagens em 2007, todas pagas com o cartão corporativo.