quarta-feira, 30 de abril de 2008

Omara Portuondo, a intérprete da emoção cubana

Omara Portuondo é dona de voz macia e intensa, que aos seus 75 anos é considerada a melhor artista cubana nesta vertente, tendo sido a protagonista duma das passagens mais comoventes no documentário "Buena Vista Social Club" do realizador alemão Wim Wenders, filme que acabou por celebrizar internacionalmente a música cubana e os seus intépretes.

A sua vida artística começou verdadeiramente por uma ironia do destino, em 1945. Inúmeras vezes, Omara assistia aos ensaios de sua irmã, Haydee, no conceituado cabaret 'Tropicana' em Havana. Por acidente, Portuondo acabaria por preencher o lugar de uma bailarina que, há uns dias da estreia do espectáculo, se despedira sem deixar rasto. Como já sabia o papel de cor, Omara agarrou a oportunidade com garra. Este seria o ponto de viragem na vida de Omara Portuondo iniciando, primeiramente, uma carreira como bailarina com a ajuda do talento de Rolando Espinosa. Aos fins-de-semana actuava no grupo Loquibambla Swing, cantando temas conceituados do jazz americano. Mais tarde, em 1952, formaria um dos mais importantes quartetos femininos na história da música cubana.

Omara primeiro integrou um grupo chamado "Cuarto de Orlando de la Rosa", tendo-se unido depois à banda feminina Anacona. É então em 1952, que passou a fazer parte do quarteto Aida Diestro, onde permaneceu por quinze anos. Durante esse tempo, desenvolveu a sua carreira a solo, trabalhando com vários artistas lendários do mundo do espectáculo, como foi o caso de Nat King Cole e Edith Piaf.

Magia Negra (1959) foi o primeiro álbum a solo de Omara, marcante no "enamoramento" entre os sons quentes de Cuba e o jazz norte-americano, "personificado" nas versões dos temas "Caravana" (de Duke Ellington) e "The Old Black Magic". Mais tarde seguir-se-iam Esta Es Omara Portuondo, 'Palabras', 'Desafios'. Omara chegou, em 1995, a gravar com os The Chieftains por intermédio de Ry Cooder, que a convidaria igualmente para encabeçar um fantástico bolero com Compay Segundo, para o álbum Buena Vista Social Club. Hoje, Omara Portuondo dirige sua própria orquestra em Cuba.

Assista ao vídeo: Maria Bethania e Omara Portuondo

Baianidade em pessoa - Dorival Caymmi comemora 94 anos em família, com bolo e guaraná

Responsável em grande parte pela identidade cultural que a Bahia construiu no país e no exterior desde o final da década de 1930, o cantor e compositor Dorival Caymmi completa 94 anos, hoje, em seu apartamento em Copacabana, no Rio de Janeiro, ao lado da mulher, Stella Maris, 86, e dos seus três filhos (Nana, Dori e Danilo), sete netos e cinco bisnetos.

Pode-se falar numa tripla e íntima comemoração: ontem, Nana Caymmi fez 67 anos e hoje Dorival e Stella também celebram 68 anos de casamento (eles se conheceram quando ela se apresentava num programa de calouros da lendária Rádio Nacional). A festa, com bolo e guaraná, acontece no final da tarde, informa por telefone uma bem-humorada e realista Nana.

“A família vai estar toda reunida. Dori (NR: o compositor e arranjador mora em Los Angeles, nos EUA) veio para o aniversário. Todos os filhos, netos e bisnetos estarão juntos. Mamãe vai comer bolos alemães, que não têm açúcar, e os de papai são feitos em casa mesmo. Também mandei fazer um caruru para ele dar uma bicada. Espero não matar o papai (risos)”.

Nana, que entra em estúdio no final de maio para gravar um álbum de inéditas temperado por algumas regravações, mora no Leblon, mas visita os pais todo dia. “Tem aparato de enfermagem, mas fico 24 horas no ar, principalmente por causa da mamãe que é um poço de doenças. Papai tem problemas de velho, ouve pouco, não lê mais e não toca mais, o que é difícil para ele. Felizmente, mantém-se lúcido e é muito paciente”.

Diferentemente do antigo apartamento, a nova morada de Caymmi, na Praça Lido, tem vista para o mar e árvores. “Até achei que ele não ia gostar, porque velho não gosta de mudar. O outro, que fica também em Copacabana, foi cercado por prédios. Papai tem síndrome de maresia. O novo dá pro mar, bate muito sol e ele tá lá contente com a tartaruga que ganhou”.

Um dos precursores da bossa nova e maior baiano vivo, Caymmi pegou um navio em Salvador em 1938, aos 22 anos, rumo ao Rio, onde produziria, via sambas-canções, a parte urbana da sua obra. A Bahia, porém, tão bem cantada por ele em hinos como A lenda do Abaeté, É doce morrer no mar, Saudade de Itapoã e Samba da minha terra, nunca deixou de ser a sua essência.

Na verdade, o mestre da música popular brasileira com suas canções praieiras criou uma sociedade ideal, com pessoas simples e felizes, personagens folclóricos, lugares lindos, clima agradável... Uma Bahia utópica e que, juntamente com a literatura do amigo e cúmplice Jorge Amado (1912-2001), difundiu mundo afora a identidade baiana que conhecemos hoje.

Uma imagem tão deliciosa quanto os doces e as comidas que Caymmi apreciava na infância e adolescência passadas na boa terra. “Graças à família Burgos, sempre tem comida da Bahia para ele aqui, tipo puba e acaçá, que é um bolo de milho enrolado, ainda quente, em folha de bananeira. Eu não vejo isso nem mais aí na Bahia. E não pode faltar farinha”, conta a filha.

Em agosto de 2006, depois de 11 anos sem pisar em Salvador, Caymmi voltou à cidade para receber o Prêmio Nacional Jorge Amado de Literatura e Arte. “A Bahia que ele carrega no coração é uma Bahia que não existe mais. Agora mesmo, ele ficou triste ao saber que o novo gabarito de Salvador permite a construção de prédios de até 18 andares na orla”, diz Nana.

***

Um arquiteto da canção brasileira

Em Dorival Caymmi, autor de cerca de cem composições, qualidade, e não quantidade, produziu uma obra extremamente singular e que pode ser considerada como um dos pilares da construção da canção brasileira. A sua folclórica fama de preguiçoso deve ser entendida, na verdade, como uma grande virtude, um traço perfeccionista da sua personalidade musical.

Através da batida do seu violão (aparentemente primitiva, mas espontaneamente inspirada nas harmonias de compositores eruditos como Ravel, Debussy, Bach e Mussorgski) e do seu canto confidente, o homem praieiro, a herança africana, os personagens baianos, as mulheres sestrosas e até um sentimento de carioquismo cruzaram os limites culturais e dionisíacos de um Brasil que fazia a transição entre o rural e o urbano.

A música de Caymmi é um grande exemplo de confluência entre o simples e o sofisticado a partir de elementos naturais como o vento, o mar, a morena e a terra. Uma confluência traduzida em canções praieiras, sambas, sambas-canções e toadas tão autorais (ele foi um dos primeiros compositores do país a gravar suas próprias canções), que o transformaram no melhor intérprete de si mesmo. A Bahia lhe deve muito. (HB)

terça-feira, 22 de abril de 2008

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Akon - hip-hop americano de origem senegalesa

Aliaune Damala Bouga Time Puru Nacka Lu Lu Lu Badara Akon Thiam, mais conhecido como Akon, (Dakar, Senegal, 30 de Abril de 1973) é um cantor de R&B e hip-hop americano de origem senegalesa, também é compositor, rapper e produtor musical. Akon chegou à fama em 2004 na sequência do lançamento de seu single "Locked Up" a partir de seu álbum de estréia Trouble. Seu segundo álbum, Konvicted, ganhou uma nomeação para o Grammy Award junto com o single "Smack That". Ele é o fundador da Konvict Muzik e Kon Live Distribution. Ele é conhecido por fazer ganchos com vários artistas e tem mais de 130 aparições como convidado e 21 canções na Billboard Hot 100 para o seu crédito. Ele é o único artista a conseguir a façanha de ficar ao mesmo tempo em primeiro e em segundo lugares simultaneamente na carta Billboard Hot 100 duas vezes, com "Don't Matter" e "The Sweet Escape". Akon é filho do percussionista de jazz, Mor Thiam e fala inglês, francês e wolof.

Nome e idade
Akon muitas vezes abreviado, Aliaune Thiam,embora outras fontes tenham dito que seu nome é Alioune Badara Thiam,e a About.com diz que seu nome é mais longo, contendo, "Lu Lu Lu", não foi autonomamente verificada. Sua idade foi descoberta recentemente. No entanto, desde então, a AP relatou que ele nasceu em 1973 e tem 35 anos. Algumas instituições da mídia relatou que ele nasceu em 1981. Em setembro de 2007, em uma entrevista para uma Revista Israelita, Akon revelou que a idade dele era entre 25 ou 26 anos.

Antecedentes
Ele é filho do percussionista senegalês Mor Thiam. Ele é um muçulmano nascido em St. Louis, Missouri , mas cresceu no Senegal até que aos 7 anos, dividiu o tempo entre Senegal e Estados Unidos até que ele foi aos 15 e, em seguida permanentemente transferido para Jersey City, Nova Jersey. Ele gravou sua primeira canção, "Operations of Nature", com quinze anos. Ele foi posteriormente preso por assaltos à mão armada e distribuição de drogas, e usou seu tempo na prisão para trabalhar em sua música. Após a liberação, Akon começou a escrever e gravar faixas em sua home studio. As fitas o levaram a ser contratado pela SRC/Universal, que Akon lançou seu álbum de estréia Trouble, em Junho de 2004. A maioria das canções de Akon começa com o som do clank de uma prisão e um celular com ele á proferir a palavra "Konvict."



quarta-feira, 2 de abril de 2008

Claudia Rizo - Quente

OLHOS DE RIZO – meu mais novo companheiro musical

Pois é! Tive acesso hoje ao já tão bem comentado “Olhos de Rizo”, da negra linda Cláudia Rizo; o álbum é uma pérola rara num ambiente musical que carecia dessa inovação estética. É uma obra ousada: brilhante na proposta, extraordinária no resultado. Trata-se, para mim especialmente, da consolidação de um projeto pessoal, mas de construção coletiva, voluntariamente coletiva; daí porque a beleza plástica que mina de todos os lados do disco; daí porque o sentimento de nostalgia dos velhos vinis: como seria bom tê-la, Claudinha, nos velhos bolachões, única maneira de consumir o romantismo com o alma repleta de alegria.

A faixa um do disco, QUENTE... bom, há uma suspeição no ar, mas devo afirmar que você soube vesti-la com uma beleza cujos próprios compositores jamais imaginaram ser possível; a canção (assim devo chamá-la?) é um belo presente romântico para os ouvidos bem-educados; a roupagem instrumental, a leveza vocal, o encontro de ambos, a sensibilidade de sabê-la uma canção de amor sem dor e recriá-la para este ambiente de contemplação amorosa foi uma bela sacada; foi uma sacada interessantíssima...

Em NOVA ESTAMPA, você, Graco e João Omar me levaram à comoção plena: Villa-Lobos regozijou nos espaços musicais que habita e se reconheceu ali, no piano, no cello, na letra, na voz, no doce perfume que emana de uma canção simples, coisa tão rara e tão necessária: simplicidade e sofisticação, este casamento perfeito legou-me momentos de puro prazer espiritual. Passei a seguir os passos labirintos e me entregar à comoção do amor. Imaginei roteiros para tantos filmes fulminado pela inspiração derivada daquele som.

A auto-biográfica ILHA DE MIM é linda a partir do próprio objetivo: fala-se si ao falar do mundo, das pessoas, das solidões, do desejo de reconstrução de desejos; o blue-breque é, no disco, a interpretação que Claudinha faz do mundo e de si mesmo, acotovelando com sua habitual verve vocabular aqueles cujas vidas se curvam à mesmice, tão funesta. O conceito da letra e da melodia, noturnas por concepção, instigou-me a imaginar o drama para construção desse arranjo, em si mesmo repleto de desejos e de um vocabulário vasto de emoções.

Não precisavam me dizer. Eu saberia em quaisquer circunstâncias: O SAMBA ME MALTRATA é uma evidente produção ricardina. Desnecessário alongar-me em considerações quanto à habilidade deste moço em traçar idéias sobre nosso cotidiano, tão vulnerável, de operário. A metáfora do couro do tamborim, este amor afetuoso e conflituoso entre mulher, malandro e samba – tão à moda buarquina – recebeu uma roupagem que merece aplausos permanentes; fiquei presa a ela horas até desembarcar embasbacado n’UM TOM MEIO ZÉ, esta verdadeira celebração daquele que é, para mim, o nosso instrumento-patrimônio-raiz: o velho pandeiro. Encontrei Ricardo Marques (o nosso velho músico dos saraus) anos atrás descendo a Rua dos Fonsecas ensandecido: acabara de compor esta que, naquele momento, ainda não tinha sequer título. Parou-me ali mesmo para mostrar sua mais nova produção musical: “vamos compor?”. Eu disse: “Não. Está completa e acabada”. Foi um naufrágio emocional involuntário ouvi-la enquanto descia a Bartolomeu de Gusmão na velha companheira bike. Até o céu se transformou e me mostrou a permanência daquilo que tem vida.

PÂO DE QUEIJO E ACARAJÉ é uma letra maldosa numa melodia safada, composta para ser cantada por uma língua vadia. Parafraseando o velho Augusto, o homem por sobre quem caiu a chaga da tristeza do mundo é mais feliz que este de seu relato musical tão sincero, e tão cortante. Seja como for, vou guardá-la para os momentos de malandragem verbal, erguê-la como símbolo de deboche contra o ocaso da intelectualidade; palavras que arranham os velhos chavões e arruínam as almas dos que arrocham e se incomodam com saias curtas.

Estou redondamente enganado ou TENTAÇÃO foi encomenda? Não há quem não diga que as artes ali narradas – as perversas e as amorosas – não sejam a reprodução do modus vivendi desta menina linda, que é, sim, uma verdadeira tentação, no que há de gozo e sofrimento nesta condição. Ricardo sabia do que estava falando: fez algo que assemelha em gênero, número e grau ao rizo: urbana, noturna, metropolitana, expansiva e (in) deletéria. Só uma nota: esse baixo de PP está destrutivo; é um componente que encerra: é um tsunami capaz de suspender o Japão.
Tom Jobim foi revisitado com uma originalidade inigualável em OUTRA METADE, que queima e arde meus tímpanos com a beleza plástica e a sentimentalidade latente ali presente. Linda. Extraordinária. Apoteótica e.. simples. Faltou-me oxigênio. Me vi assim, como em Ilha de Mim, só na multidão. Naveguei nas teclas do piano e voltei ao tempo que passávamos as tardes, sós, no velho auditório da UESB, tocando aquele piano que já tinha o seu cheiro, o seu sabor.

DOIS DESTINOS tem uma melodia que parece querer transportar-nos a eras longínquas da existência. Mas, para ser bastante sincero, merecia uma letra melhor. Por isso, paro por aqui. Amei DESLIGUE A LUZ. Ouvi o quanto pude. Você estava inspiradíssima na gravação. Música, poesia e intérprete se fundiram numa musicalidade fascinante. Jazz, blue e forró: foi a mais nova semente da flor no meu presente.

OLHOS DE RIZO, olhos de lince: ali é evidente o dedo inspirador de Luciano PP. É uma viagem musical que transporta a luz do expresso 2222. Rasgar a voz foi uma necessidade numa poesia que grita por um amor? Esi aqui o resultado perfeito de uma união cuja vitalidade reside na sensibilidade e na simplicidade, primas-irmãs da beleza.

INDECISÃO é mais uma canção claudiniana, por excelência. Vislumbrei tantas coisas boas naquele curto espaço de tempo que me vi compelido a lançar-me outras vezes ao mesmo ambiente musical: quando absurdamente exaurido, fugi pra QUIZUMBA. Esta, sim, feita para fechar com chave de ouro o já aurífero CD. Espantosa criação humana, senti-me em verdadeiro estado de reencontro com nossa afro ancestralidade. Curvei-me à beleza por sabê-la fruto de encontros venturosos.