quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Emir Sader: “os brancos são mais iguais”

O lema fundamental da dominação capitalista e imperialista continua sendo: “Civilização ou barbárie”, em que eles se apropriam do primeiro e reservam o segundo para todos os outros. São brancos, ocidentais, protestantes ou católicos, europeus ocidentais ou estadunidenses. Mas é a cor da pele a bandeira da sua ‘superioridade’.

Hollywood, a maior fábrica de racismo do mundo recontou a história do massacre das populações indígenas nos EUA como uma saga da ‘civilização’ resgatando o território da dominação dos peles vermelhas “traiçoeiros” diante do indômito cowboys, chamados de “mocinhos”.

A cada tanto tempo ressurgem nos EUA teorias e afirmações racistas sobre a suposta inferioridade intelectual dos negros. Antes das declarações do Prêmio Nobel sobre o tema, anos atrás apareceu a “teoria dos sinos”, repetindo a mesma ladainha. Os negros teriam características que fariam deles excelentes para atividades atléticas. Chegam ao requinte de fazer mapas da origem dos africanos, definindo que os de certas regiões seriam mais adaptados para corridas de longas distâncias, pela resistência, outros de curta distância, pela rapidez.

Não entram nesses cálculos a colonização e a escravidão, que parecem fenômenos passageiros, que não deixam marca nenhuma na trajetória dos que enriqueceram e dos que empobreceram com elas. Tratava-se do recrutamento de uma raça inferior para trabalhar para uma raça superior, para o “progresso”, para o “desenvolvimento”, como se tratasse de categorias atemporais, que beneficiassem a “humanidade”, a civilização”, apropriadas pelos brancos ocidentais cristãos.

Apoiados nesses raciocínios pseudamente científicos, desqualificar as outras etnias, além de obter ganhos imediatos, entre os quais, centralmente, o fim das políticas de cotas. Não adiantaria tentar promover os negros, porque sua inferioridade seria genética.

Quando conseguiram isso na Califórnia, o resultado foi arrasador para os negros: os brancos e os de origem asiática repartiram entre si as vagas nas universidades, praticamente excluindo os negros. Disso se trata: de manobras intelectuais que justifiquem a imposição da hegemonia das idéias dominantes na sociedade mercatilizada dos EUA: os pobres – entre eles os negros – não são produtos da estrutura econômica e social do país, porém “perdedores” em um jogo em que tiveram as mesmas oportunidades que os outros e foram vencidos no concurso meritocrático da excelência, da produtividade, do custo benefício.

Todos são iguais, mas os brancos são mais iguais, mais “civilizados”, mais inteligentes – e mais ricos, mais poderosos, mais beligerantes, mais agressivos, mais discriminadores, mais exploradores.

Emir Sader é sociólogo

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