Por Devana Babu*
Eu sei que vocês, leitores, não são nada preconceituosos, e é por isso que vocês estão lendo esta coluna. Porque quem escreve ela é um negro. E porque só tem quatorze anos. E por que é vocês, como brancos superiores, sabem que por pior que seja esse artigo e por mais mal escrito que ele esteja, eu sou negro, então está bem. E também sei que algum negro ativista vai pegar este artigo e dizer: “que massa, isso foi um negro que escreveu”. E vai sair correndo para seus companheiros ativistas e dizer: “viu o que um negro escreveu, gente, como ele conseguiu?”; e que milhares de leitores vão ter reações semelhantes. Aliás, eu também teria reações como essa, se eu visse um chimpanzé escrevendo de forma rústica. Agora, meus caros, nunca me surpreenderia com um ser humano. Este, meus jovens, é justamente o ponto em que pecam todos aqueles que tentam se passar por não preconceituosos. Por que eles acabam sempre criando preconceitos maiores que os preconceitos que supostamente combatem, pois criam vícios e protecionismos.
Muitos tentam realmente passar essa fachada: trocam a não-aceitação de tudo que tivesse origem negra por uma demonstração incondicional e espontânea de admiração por tudo o que cheira a negro. Esses pobres tipos agem como se dessa forma evitassem de ser preconceituosos. Ora, assim como uma pessoa que fala uma coisa e recomenda a seu interlocutor que não pense em obscenidades está na verdade ele próprio pensando nelas, essas pessoas que fazem este tipo de julgamento estão na verdade pensando numa forma de não ser preconceituosas, e não não sendo. Procuram sempre incluir em seu julgamento o fato de a pessoa ser negra, deficiente, indígena, jovem, velha, magra, gorda, feia, bonita, ou gente. E dão como que um desconto.
Fora que deixam de lado – ou tentam fingir – a sua visão preconceituosa das outras culturas, e adotam assim a postura de ter que gostar de qualquer coisa que provenha da cultura negra ou de outras culturas brasileiras mais rústicas e tradicionais, embora, por exemplo, não apliquem essa visão às outras culturas internacionais. Criam assim uma espécie de obrigação, como se duas pessoa assistissem à uma peça criada a partir de elementos da cultura negra e uma dissesse: “nossa, que lixo...”, e a outra (consciente e não preconceituosa que é), dissesse: que é isso, você TEM que gostar, essa é a nossa cultura negra!
Essa, meus caros, é a forma mais cruel e absurda do preconceito: aquela que tenta não ser preconceituosa.Por isso, não se pode tentar camuflar ou seguir o caminho inverso de nossos preconceitos. O melhor caminho e a melhor solução para evitar o preconceito é simplesmente esquecer a condição do homem, e não se surpreender, pois independentemente de idade, sexo, cor, religião, classe social, ou opção sexual, somos todos GENTE. “Nunca se surpreenda com o homem que faz, mas com o que o homem faz”.
*Devana Babu é estudante secundarista em Brasília
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