Vou logo avisando, não sou músico, crítico ou coisa que o valha, mas não tem como eu não falar, comentar um pouco de música, ainda mais quando a cada momento a gente se depara com personagens que estão por esse Brasil afora, produzindo, criando, propondo coisas interessantes do ponto de vista do engrandecimento do homem e da sua cultura, da liberdade e inventividade...
Afinal, como escreveu Leon Trotski, o Revolucionário Russo, em sua obra Política, ‘Cultura é um fenômeno social e só ela seria o instrumento principal da opressão de classe. Mas também a cultura, e apenas ela, pode tornar-se um instrumento da emancipação socialista’. Fazendo um paralelo, me reporto à Professora Mara Aquino, musicista e pesquisadora dessa seara chamada música.
Pois bem, há uma entrevista dela no Jornal Brasil de Fato, edição de 04 a 10 de Outubro, 2007, onde com muita propriedade, ela faz um ‘revival’ da diversidade musical brasileira, então para além do arrocha que vai até uma baixa qualidade do forró cheio de sintetizadores, até por que estão aposentando a velha sanfona cansada de guerra... Ela, a professora nos remete à música dos crioulos, os batuques, os pré-sambas, como o Lundu, samba-de-roda, partido alto, jongo, coco, tambor de crioula, maracatu, choro... Assim se percebe o quanto a música produzida e preconizada no Brasil fora do eixo corporativo da grande mídia tem muito da mistura da música portuguesa, indígena e africana, produzindo uma grande variedade de estilos. Entendo sim que o que falta principalmente na velha Bahia cansada de guerra é pesquisar e compartilhar a musicalidade negra percorrendo, imbricando, retraçando caminhos no espaço e tempo.
Acho que isso não é um árduo trabalho, na verdade o que precisa é separar o que a professora chama de joio e de trigo. Aqui o que se produz não cabe somente numa peneira da mídia comprometida apenas com a audiência a qualquer preço. Observe, o músico ‘Candeia há quase quarenta anos dizia que quando o negro tomasse consciência de sua cultura ele seria um rei. Nem precisaria ficar macaqueando os negros americanos, pois saberia da riqueza de suas raízes, mais criativas e mais combativas que as do próprio negro norte-americano.
Os negros brasileiros conseguiram manter para outras gerações suas crenças, sua ginga, suas músicas, seu batuque, suas danças, foram mais fortes e mais resistentes que os negros da América. Mas hoje olhamos para os nossos irmãos do Norte com inveja, como se tivéssemos mais a aprender com eles do que eles com nossa resistência. Eles tiveram o Black is Beautiful, lutaram na Guerra da Secessão, o belíssimo Jazz e movimentos de consciência que influenciaram irmãos por todo o mundo. E nós? Nós tivemos os quilombos, as repúblicas negras, as guerras contra a dominação branca. A resistência nos terreiros, a insubmissão. A dança, a manutenção da religião, a música, as crenças, a disseminação da cultura para toda a sociedade branca.
Nós temos o samba, tão belo quanto o jazz e muito mais rico e belo que o rap’, Penso ser extremamente complicado ver um negro afro-brasileiro tentar protestar cantando rap, imitando o americano ou o europeu, tentando fazer graças a um amo que não lhe dá a mínima importância... Quando falo em resistência preta, quero retratar não a belle epoque de France (?), mas as modulações imprevistas do maxixe lundu, tangos, o cateretê ou a catira de Luiz Wagner lá dos pampas, os primeiros choros de Patápio Silva, Chiquinha Gonzaga, Candeia e o batuque do quilombo Norte mineiro de que nos fala a professora Mara Aquino, de forma extremamente apaixonada!
Certamente a herança africana em nossa música afro-brasileira, está muita bem definida, ouça Jerônimo, Lazzo Matumbi ou ainda Edson Gomes só para citar alguns e perceba a África no nosso meio, bem perto de nós. Termino essa assertiva citando um cara propositivo, muito louco, chamado Tim Maia que escolheu um livro único como o responsável pelo seu bom senso. “Já senti saudade/Já fiz muita coisa errada/Já pedi ajuda/Já dormi na rua/Mas lendo, atingi o bom senso/A imunização racional...” No final da gravação ele diz, em tom bem sério: “Leia o livro `Universo em Desencanto´.
Então tome coragem e leia!
Joilson Berguer é Professor de História em Brumado, Bahia. Especialista em Metodologia do Conhecimento Científico, Militante e Pesquisador Independente do Negro no Brasil
sexta-feira, 28 de dezembro de 2007
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