domingo, 16 de dezembro de 2007

Fontes cruciais para a História de África estão em Portugal

A afirmação é do autor de 2 volumes sobre evolução do continente negro


"Portugal é provavelmente o país onde estão as fontes mais importantes para a História de África", confessa Elikia M'Bokolo, o historiador francês de origem congolesa director na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris. M'Bokolo falava ao DN após o lançamento em Português do 2.º volume da História de África, o grande projecto da sua vida.

Em curtas declarações, o historiador dá o exemplo "dos dez volumes da Monumenta Missionária Africana, de António Brásio (1958- -68), que até hoje não foram verdadeiramente estudados". Cita documentos redigidos em Português desde o século XV "que permitem a datação exacta dos factos em África, onde as fontes orais e a arqueologia só dão datas aproximadas". Porque, pormenoriza, "há países de que pouco se sabe porque não há documentos escritos e, devido ao clima, as fontes materiais desapareceram".

A elaboração da História de África, concebida nos anos 60, amadurecida nos 80 e escrita nos 90, surgiu porque "não havia uma obra completa e sintética com uma abordagem moderna e interdisciplinar da História da África Negra". Produtor desde 1963 de um programa de rádio internacional participado por imigrantes, M' Bokolo sentiu, também ali, a necessidade de esta comunidade se rever num passado credível. Mas M' Bokolo tem grande esperança no futuro, defendendo que a "renascença africana" acontecerá com as novas gerações.

Sem ideias feitas

Tradutora do 2.º volume, a historiadora Isabel Castro Henriques considera que esta obra significa "um momento fundamental da história da construção da historiografia africana que vem pôr de lado uma série de ideias feitas, fazendo a síntese necessária dos trabalhos que se foram publicando a partir dos anos 70, com recurso a áreas como a linguística, sociologia ou antropologia". Em sua opinião, é "a melhor história de África publicada, que se centra nos africanos e não na velha questão dos africanos contra qualquer coisa..." Também Alfredo Margarido, historiador que o Estado Novo rotulou de "maldito" e expulsou das colónias, classificou M' Blokolo de historiador "absolutamente excepcional" que "interverteu os ponteiros do relógio da história", porque esta, ao longo dos séculos, "diabolizou os negros" e ignorou que antes de chegarem os europeus "havia História em África".

Fonte: Folha de S. Paulo

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